Resumo

O papel cada vez mais estratégico da TI tem levado ao planejamento estratégico de suas ações. No setor público brasileiro, as ações relacionadas a TI não são alinhadas às necessidades organizacionais, o que levou à regulamentação de um processo que exige o planejamento estratégico de TI e a elaboração de um PDTI nas organizações públicas. A descentralização das decisões sobre TI pode prejudicar o cumprimento dos objetivos estratégicos de uma organização com estrutura descentralizada, pois a execução do PDTI pode atender aos interesses locais das unidades e não aos objetivos gerais.

Este trabalho foi resultado de um estudo de casos com o objetivo de investigar o efeito exercido pela descentralização da Gestão de TI nas atividades referentes ao PDTI em quatro unidades descentralizadas de uma organização pública federal. Para isto, o estudo parte da seguinte pergunta de pesquisa: como a descentralização na Gestão de TI interfere no Plano Diretor de Tecnologia da Informação elaborado pelas unidades descentralizadas de uma organização pública?

A descentralização é uma tendência explicada por suas vantagens, mas ela também apresenta desvantagens. Em uma organização pública descentralizada, o planejamento estratégico de TI é centralizado, mas as decisões sobre implementação do Plano Diretor de TI (PDTI) podem ser descentralizadas. Com base nos modelos de alinhamento estratégico de Teo e Ang (1999), Luftman (2000) e Brodbeck e Hoppen (2003) foram identificados indicadores para identificar como a gestão descentralizada de TI interfere na implementação do PDTI nas unidades descentralizadas de uma organização.

O trabalho é um estudo de casos múltiplos em quatro unidades descentralizadas de uma organização pública que têm autonomia para implementar seus respectivos PDTIs. O estudo envolveu entrevistas com seis gestores e ex-gestores das unidades organizacionais, pesquisa documental e observação não participante para analisar dados sobre a implementação dos PDTIs dos anos de 2015 a 2017 das unidades descentralizadas. Os dados foram analisados e as evidências empíricas identificadas foram classificadas com base nas dimensões e indicadores de análise para obtenção dos resultados.

A pesquisa mostrou relação entre o planejamento estratégico organizacional e de TI, mas há pouca relação entre eles e os PDTIs das unidades descentralizadas. Projetos e processos de licitação das unidades envolvem necessidades comuns, mas são executados de forma independente, gerando duplicidade de esforços e aumento de custos. A administração central não monitora as atividades dos PDTIs e o suporte oferecido às unidades é insuficiente. Não há padrões institucionais utilizados na implementação dos PDTIs e os gestores de TI das unidades não se consideram capacitados para essas atividades.

Os resultados mostram que a descentralização da gestão de TI dificulta a padronização de processos internos de planejamento de TI em unidades descentralizadas de uma organização, bem como a colaboração entre as unidades, a sinergia entre as unidades e a administração central. Como consequência, ocorre duplicidade de esforços nos processos do PDTI das unidades e gasto desnecessário de recursos. Ao contrário do que era esperado, a autonomia na tomada de decisões, uma decorrência da descentralização, não levou à capacitação dos gestores de TI das unidades.

Brodbeck, A. F., & Hoppen, N. (2003). Alinhamento estratégico entre os planos de negócio e de tecnologia de informação: um modelo operacional para implementação. Revista de Administração Contemporânea, 7(3), 9-33. Luftman, J. (2000). Assessing Business-IT Alignment Maturity. Communications of AIS, 4(1). Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2012). Guia de PDTI do SISP: Versão 1.0. Brasília, DF, Brasil. Teo, T. S. H, & Ang, J. S. K. (1999). Critical success factors in the alignment of IS plans with business plans. International Journal of Information Management, 19(2), 173-185.