Resumo

As organizações públicas apresentam elevada burocracia, apego às regras e rotinas, supervalorização das hierarquias, paternalismo nas relações, apego ao poder, e outras. Tais características também estão presentes nas Universitárias Públicas/Pós-Graduação, que sofrem pressão e são influenciadas pela sociedade, pelo mercado, pelo Estado, que provocam mudanças nas suas práticas, e consequentemente modificam sua cultura. Desta forma, pode-se enfatizar que a atual conjuntura deste ambiente se encontra cada vez mais turbulento e reflete muitos problemas da própria sociedade e das organizações.

O mundo da academia não é diferente do mundo das fábricas, é um ambiente de competição e exigências, favorecimento de grupos, impunidade, que reorganiza a produção acadêmica com vistas a uma maior produtividade – elementos estes que podem influenciar no surgimento de casos de assédio moral (NUNES, 2016). Este artigo objetiva caracterizar os elementos presentes na cultura da Pós-Graduação identificados como favoráveis à ocorrência do assédio moral, tendo como base os discursos de docentes e discentes vinculados aos Programas de Pós-Graduação stricto sensu de uma Universidade Pública Estadual.

A caracterização do assédio moral parte das relações interpessoais, porém atualmente, sua ocorrência deixou de ser centralizada no âmbito individual para se analisar também a organização, e consequentemente a cultura organizacional. Desta forma, práticas culturais arraigadas na Pós-Graduação, como pressão por produtividade, competitividade, vaidade acadêmica e outros, podem explicar como ocorre o assédio moral neste ambiente (NUNES, 2016). O assédio moral no âmbito Universitário se manifesta principalmente pelo abuso de poder e pela recusa de uma diferença ou particularidade do indivíduo.

A pesquisa teve uma abordagem predominantemente qualitativa, tendo como público-alvo docentes e discentes vinculados aos Programas de Pós-Graduação (PPG’s) de uma Universidade Estadual. Para a coleta dos dados, ocorrida no 2º semestre de 2017, foi utilizado questionário online (126 respostas) e entrevistas individuais (7 entrevistas). A divulgação ocorreu por meio de contato com as secretarias dos PPG’s para divulgação e também por envio de e-mails coletado nas páginas dos programas. Para a análise dos dados, ocorreu mediante a análise de conteúdo e análise estatística descritiva.

Constatou-se que os participantes acreditam que a cultura da Pós-Graduação pode influenciar a manifestação do assédio moral. Desta forma, mediante constatação de suas verbalizações e por menção dos mesmos, foram identificados elementos que favorecem sua ocorrência: impunidade; questões grupais; cobranças e pressões; produtividade; competitividade e vaidade. Tais elementos são manifestados, muitas vezes, pelo abuso de poder e recusa de uma diferença. Portanto, é preciso rever as práticas e comportamentos dentro da Pós-Graduação para evitar que situações de assédio e outras violências ocorram.

A Pós-Graduação não é muito diferente do mundo das fábricas, que exigem produtividade, trabalham sobre pressão e cobrança, clima de competitividade, e impunidade. Embora exista constantemente uma mudança do quadro de vinculados, principalmente entre os discentes, as práticas permanecem sendo reproduzidas e naturalizadas. A discussão sobre a estrutura, práticas e a saúde mental na Pós-Graduação, por exemplo, são frequentes e pouco (ou nada) se faz para resolver os problemas e situações que dela se originam. Afinal, “o importante é produzir, a saúde e os relacionamentos recupera-se depois”.

- NUNES, T. S. A influência da cultura organizacional na ocorrência do assédio moral no trabalho na Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC, 2016. 432p. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Administração, 2016. - HELOANI, R.; BARRETO, M. Assédio moral: gestão por humilhação. Curitiba: Juruá, 2018. - ALCADIPANI, R. A Academia e a Fábrica de Sardinhas. Organizações & Sociedade, v. 18, n. 57, p. 345-348, 2011. - FREITAS, M. E.; HELOANI, R.; BARRETO, M. Assédio moral no trabalho. Cengage Learning, São Paulo, 2008.