Resumo

Título do Artigo

Vivências de prazer e sofrimento de cuidadores formais de idosos e a organização do trabalho
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Palavras Chave

Psicodinâmica do trabalho
Saúde mental
Sofrimento no trabalho

Área

Gestão de Pessoas

Tema

Significado do Trabalho, Satisfação e Mecanismos de Recompensa

Autores

Nome
1 - Vinícius Rennó Castro
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) - ESALQ - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

Reumo

Os cuidadores formais de idosos, profissão não regulamentada no Brasil, vivenciam situações adversas de sofrimento e prazer no trabalho, conforme a literatura. Compreender aspectos sobre as vivências desses profissionais pode trazer contribuições em quatro pontos essenciais: 1) na promoção da saúde dos próprios cuidadores; 2) no aumento da qualidade dos serviços oferecidos pelas instituições; 3) na capacitação desses profissionais para atender a demanda crescente ao serviço que oferecem; e, como consequência dos outros três pontos, contribuir para uma melhor assistência da pessoa idosa.
Apesar dos recentes e acelerados ganhos de longevidade no Brasil, do número de idosos que dependem de ILPIs e do aumento da demanda de trabalho para profissionais que atuam como cuidadores de idosos, pouco se sabe sobre as vivências, saúde mental e qualidade de vida desses profissionais. Assim, objetiva-se com esse estudo investigar as vivências de trabalho de cuidadores formais de uma ILPI. Os objetivos específicos consistem em identificar as vivências de prazer e sofrimento laboral, suas relações com a organização do trabalho e as estratégias defensivas utilizadas por esses profissionais.
O trabalho está fundamentado na teoria da Psicodinâmica do Trabalho, especificamente nos dispositivos conceituais e discussões desenvolvidas por Christophe Dejours e demais estudiosos da área, a saber: trabalho prescrito e trabalho real; organização do trabalho; ressonância simbólica; investimento sublimatório; recursos de mobilização subjetiva: inteligência prática, processos de reconhecimento, colaboração e espaços para fala; estratégias defensivas; e patologias sociais. Ainda, foram utilizadas referências sobre cuidadores formais e suas vivências, além de estudos sobre ILPIs.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com dados coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas e observação participante (OP). Os dados foram analisados a partir do Discurso do Sujeito Coletivo à luz da teoria da Psicodinâmica do Trabalho. As entrevistas seguiram um roteiro de quatro tópicos chave: organização do trabalho; vivências de prazer no trabalho; vivências de sofrimento no trabalho; estratégias defensivas. Participaram do estudo 12 funcionários da instituição, sendo 8 cuidadoras, 1 cuidador, 2 técnicas de enfermagem e 1 enfermeiro. A OP foi realizada em um período de 7 dias.
O sofrimento é vivenciado pelos cuidadores na sobrecarga de trabalho, no convívio constante com o sofrimento alheio, nas situações de óbito dos residentes e na falta de reconhecimento pela sociedade. As vivências de prazer ocorrem na identificação com a profissão, no reconhecimento pelos idosos, no aprendizado com a pessoa idosa e no relacionamento com a equipe. As quatro estratégias defensivas identificadas para lidar com o sofrimento foram as seguintes: trabalhar com bom humor, gostar do trabalho, focar na rotina e desligar-se do trabalho.
A ressignificação do sofrimento laboral é essencial no trabalho desses profissionais para que alcancem uma estabilidade psíquica; a organização do trabalho na instituição permite aos cuidadores modificarem o trabalho prescrito; e apesar da rotina dispendiosa, os cuidadores vivenciam situações de prazer. Considerando a imaterialidade do trabalho do cuidador, faz-se necessário tornar visíveis as vivências práticas e o contexto de trabalho desses profissionais, de modo que o julgamento de utilidade pela sociedade resida no saber-fazer da profissão e não na posição social do cuidador.
As referências completas estão discriminadas no artigo. Seguem em formato de citação: ABRAHÃO; TORRES (2004) ANDRADE; GIONGO (2017) ANGROSINO (2009) BARBOSA et al. (2017) BARROS ; BARROS (2007) BORN; BOECHAT (2011) CNMP (2016) CRESWELL (2014) DEJOURS (1986, 1993, 2004, 2007, 2011, 2013) DEJOURS et al. (1994) DENZIN; LINCOLN (2011) FLICK (2009) GASKELL (2002) GOTTLIEB (2006) HELOANI (2008) HELOANI; LANCMAN (2004) KUNZLER (2016) LEFEVRE; LEFEVRE (2009, 2014) MENDES (1995, 2007) MERHY; FRANCO (2009) MERLO; MENDES (2009) OLIVEIRA et al. (2011) WATANABE (2009)