Resumo

O crescente percentual de mulheres ativas na força de trabalho global tem contribuído para uma maior diversidade de gênero nas equipes de trabalho. No Brasil, ainda que a atuação feminina no mercado de trabalho esteja crescendo, o nível de ocupação das mulheres permanece inferior ao dos homens. O setor da construção é o setor com maior diferença entre homens (89,8%) e mulheres (10,2%) entre o pessoal ocupado assalariado. A diversidade no ambiente de trabalho, bem como a satisfação com o trabalho são temas que têm sido discutidos em pesquisas sobre GERH.

Diante da baixa diversidade de gênero presente no setor brasileiro da construção e considerando que a análise da satisfação no trabalho pode fornecer informações sobre o mercado de trabalho e percepções dos trabalhadores, o objetivo desse artigo é examinar as diferenças de gênero entre homens e mulheres cisgêneros com relação à satisfação com o trabalho no setor da construção.

São discutidos três tópicos: (1) A perspectiva estratégica de RH: surgiu do desejo dos pesquisadores de demonstrar a importância das práticas de recursos humanos para o desempenho organizacional. (2) A diversificação da força de trabalho: faz com que a organização tenha que se adaptar a novas atitudes dos colaboradores e abordagens do trabalho para se beneficiar do conjunto completo de potenciais funcionários. (3) A satisfação com o trabalho: “um estado de avaliação que expressa satisfação e sentimentos positivos em relação ao trabalho de alguém” (JUDGE; KAMMEYER-MUELLER, 2012, p. 343).

Os dados utilizados são decorrentes da pesquisa Melhores Empresas Para Trabalhar (MEPT) realizada pela VOCÊ S/A. Os participantes da pesquisa são os trabalhadores das oito empresas do setor de Engenharia e Construção. A composição amostral foi constituída por 4426 trabalhadores, sendo 3713 do gênero masculino e 713 do gênero feminino. Foram verificadas quatro dimensões latentes que refletem a satisfação com o trabalho por intermédio de Análise Fatorial e testadas diferenças entre os gêneros por meio de Teste T de Student e MANCOVA. Foram utilizados os softwares IBM SPSS v23 e StataSE v12.

Tanto as dimensões da satisfação com o trabalho quanto os itens que as compõem possuem significância estatística, confiabilidade de consistência interna (pelo alfa de Cronbach e confiabilidade composta), validade convergente (cargas fatoriais, variância explicada e comunalidades) e validade externa (comparação com os resultados encontrados na literatura). Em todas as dimensões da satisfação com o trabalho há diferença entre os gêneros. As diferenças existem mesmo após controlar o impacto da idade, número de filhos, nível de instrução, nível de renda mensal, regime de trabalho e cargo ocupado.

A contribuição teórica da pesquisa consiste em confirmar a existência de diferenças de gênero na satisfação com o trabalho no setor de construção. As dimensões de satisfação com o trabalho propostas também contribuem para a literatura. Quanto à contribuição prática, os resultados apresentados, ao fornecer informações sobre a satisfação com o trabalho no setor da construção, podem ser úteis para compreender e elevar os níveis de satisfação dos trabalhadores de ambos os gêneros, mas em especial daqueles do gênero feminino por possuírem menor satisfação com o trabalho.

IBGE. Instituto Brasileira de Geografia e Estatística. Estatísticas do Cadastro Central de Empresas. Rio de Janeiro: IBGE, 2018. Disponível em: . Acesso em: 27 jun. 2018a. JUDGE, T. A.; KAMMEYER-MUELLER, J. D. Job Attitudes. Annual Review of Psychology, v. 63, p. 341-367, 2012. SCHNEID, M.; ISIDOR, R.; LI, Chengguang; KABST, R. The influence of cultural context on the relationship between gender diversity and team performance: A meta-analysis. The International Journal of Human Resource Management, v. 26, n. 6, p. 733-756, 2015.