Resumo

Título do Artigo

AS ESTRATÉGIAS DEFENSIVAS DOS MOTORISTAS DE APLICATIVOS: Uma análise do enfrentamento da violência urbana à luz da Psicodinâmica do Trabalho
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Palavras Chave

Motoristas de Aplicativos
Violência
Psicodinâmica do Trabalho

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Comportamento Organizacional

Autores

Nome
1 - Marcia Vaclavik
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS) - Escola de Administração
2 - Claudia Piccolotto Concolatto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS) - Escola de Administração
3 - Andrea Poleto Oltramari
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS) - Escola de Administração

Reumo

No âmbito das mudanças do mundo do trabalho, o surgimento da economia compartilhada e dos mercados laborais digitais aponta para alterações de natureza econômica e social que já impactam as relações de trabalho. Investiga-se, neste estudo, a realidade de motoristas de aplicativos de transporte de passageiros, o principal expoente dos modos de organização econômica. Para além das questões características da natureza da sua atividade, estes trabalhadores enfrentam ainda os reflexos da violência urbana, e se veem assolados cotidianamente por uma dupla insegurança.
O objetivo deste trabalho é compreender como se configuram as estratégias de enfrentamento da violência urbana no contexto do trabalho dos motoristas de aplicativos. Desse modo, investiga-se a existência de espaços que permitam o desenvolvimento de mecanismos como a adaptação e a inteligência astuciosa (DEJOURS, 2004; 2011a; 2011b; 2015).
À luz da Psicodinâmica do Trabalho, amparados nos estudos de Dejours (2004; 2011a; 2011b; 2015) espera-se observar se há ambientes em que possam se sustentar o reconhecimento, a confiança e a cooperação na coletividade. Acredita-se que, para dar conta da dupla insegurança, os motoristas precisam engendrar estratégias defensivas, as quais são foco do presente estudo. Questiona-se como se dá o movimento de enfrentamento e de resistência ao sofrimento por parte destes trabalhadores e como ele se revela.
Dada a natureza qualitativa e exploratória deste estudo, utilizou-se como principal fonte de dados a realização de entrevistas semiestruturadas. Foram entrevistadas dez pessoas em Porto Alegre/RS entre dezembro/18 e fevereiro/18. Destas, nove são ou já foram motoristas de aplicativos de transporte e uma é psicóloga especialista em psicologia do trânsito. Ainda, como fonte secundária de dados, menciona-se o acompanhamento diário de manchetes de jornais e sites de notícias desde o mês de maio/17, além da a observação participante das pesquisadoras como passageiras.
Os resultados encontrados, analisados à luz da Psicodinâmica do Trabalho, sugerem que estes trabalhadores desenvolvem mecanismos de enfrentamento mesmo nas condições mais adversas, reforçando a importância da coletividade e do desenvolvimento da solidariedade. A necessidade de uma análise espacial e contextualmente situada se prova fundamental. A realidade das inseguranças que tocam as vidas dos motoristas brasileiros tem o potencial de trazer novas nuances para compreender o fenômeno da economia compartilhada e dos mercados laborais digitais.
Como contribuições, entende-se que este estudo possibilita um olhar ampliado acerca das configurações das estratégias de enfrentamento apontadas nos estudos por Dejours (2004; 2011a; 2011b; 2015), até então limitados ao ambiente organizacional característico dos empregos formais. Os resultados encontrados revelam a importância de alargar o olhar para a compreensão da temática sob outras formas de organização laboral.
DEJOURS, C. Trabalho, subjetividade a ação. Revista Produção, vol. 4, n. 3, p. 27-34, set./dez., 2004. DEJOURS, C. Avant-propos para a edição Brasileira. In: Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. 3a. ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2011a. DEJOURS, C. Addendum: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. In: LANCMAN, S.; SZNELWAR, L. I. (Eds.). . Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2011b. DEJOURS, Christophe. El sufrimiento em el trabajo. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Topía Editorial, 2015.