Resumo

O avanço das tecnologias de informação e comunicação propiciou o surgimento de novos recursos tecnológicos e de facilidades para a vida das pessoas. Os serviços prestados por aplicativos, especificamente serviços de transporte (como é o caso da Uber), ilustram essas transformações, pois mostram mudanças expressivas nas organizações e seus processos, levando a novas relações de trabalho, mais flexíveis do que nos moldes tradicionais. No entanto, surgem questionamentos relacionados à qualidade de vida no trabalho mediante as relações que ocorrem por meio dos aplicativos de transporte.

Frente às novas relações de trabalho e as promessas de maior liberdade e flexibilidade que trouxeram foi definido como objetivo dessa pesquisa compreender como está configurada a qualidade de vida no trabalho de motoristas de transporte por aplicativo da empresa Uber. Para tal, foi realizada uma pesquisa qualitativa-descritiva com motoristas da empresa em questão e feita a análise de conteúdo dos dados coletados a fim de caracterizar, na visão dos trabalhadores, como se dá a qualidade de vida nesse tipo de trabalho.Frente às novas relações de trabalho e as promessas de maior liberdade e flexib

O mundo laboral vivenciou uma transição em que suas atividades deixaram de ser vistas apenas sob o aspecto econômico. Nesse sentido, a qualidade de vida no trabalho obteve notoriedade, uma vez que trata de questões relacionadas ao bem-estar humano nos âmbitos da saúde, das condições do ambiente de trabalho e de fatores que possam influenciá-lo. Um grande desafio para área de QVT é produzir conceitos e modelos que sejam válidos para as novas relações de trabalho que surgiram, como é o caso do E-hailing, ato de requisitar o serviço de transporte por meio da internet e dispositivos eletrônicos.

Foi realizada uma pesquisa de natureza qualitativa e descritiva, a fim de expor características de uma determinada população (no caso, motoristas da empresa Uber), por meio de estudo de caso. Os sujeitos de pesquisa foram motoristas que trabalham com o aplicativo da empresa Uber na cidade de Belo Horizonte (MG), sendo escolhidos pelo critério de acessibilidade, através da técnica bola de neve. Os dados foram coletados por meio de entrevistas com roteiro semiestruturado e analisados conforme análise de conteúdo (BARDIN, 2009), com categorização a posteriori.

A QVT dos motoristas analisados não tende a atingir níveis elevados na percepção dos mesmos, sendo considerada inferior à QVT observada em trabalhos formais, com carteira assinada. Mesmo considerando a flexibilidade, o rápido retorno financeiro e a possibilidade de enfrentamento do cenário de desemprego que a Uber oferece, os motoristas em questão revelam uma contradição entre o desejo de maior autonomia, de ser “seu próprio patrão” e a percepção de maior QVT em relações de trabalho ditas formais. Isto pode se dar devido às ideias de pseudoautonomia e de autogestão difundidas pela empresa.

O modelo de relação de trabalho estabelecido entre a empresa Uber e os motoristas prestadores de serviços entrevistados não fornece aos mesmos os maiores índices de qualidade de vida no trabalho esperados e anunciados pela empresa. A falta de direitos trabalhistas assegurados, a instabilidade, a exposição à violência e ao estresse do trânsito, a falta de segurança, o nível de esforço demandado para uma remuneração que atenda às expectativas e o baixo comprometimento dos motoristas com a empresa foram alguns dos fatores que levaram a essa conclusão.

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