Resumo

A convivência e as interações entre as diferentes gerações no ambiente de trabalho podem contribuir para o processo de AO. Conforme Antonello e Godoy (2010), a AO recorre a níveis individuais e a suas interações. Nessa perspectiva a análise das práticas organizacionais assume relevância e incide no avanço dos estudos da AO, como ponto central explicativo desse fenômeno, seguindo principalmente os conceitos de Sylvia Gherardi. Na lógica de considerar que os processos de aprender são também corporais e multissensoriais, adotou-se o uso da abordagem estética (STRATI, 2007).

A questão de pesquisa que norteou este estudo foi: sob a perspectiva sociológica, como a diversidade geracional contribui para a AO?. A partir dessa problemática, esse artigo teve como objetivo principal propor um esquema conceitual analítico que facilite a compreensão das contribuições da diversidade geracional para a AO, sob a perspectiva sociológica.

A diversidade geracional caracterizada pelas suas trocas relacionais e interações, tem a potencialidade de constituir ambientes organizacionais ricos em conhecimentos que podem contribuir para a aprendizagem organizacional (AO). Com o propósito de transpor as linhas de pensamento mais pragmáticas, trabalhou-se com a perspectiva sociológica, na qual a análise das práticas organizacionais assume relevância e incide no avanço dos estudos da AO. Ao considerar que os processos de aprender também são corporais e multissensoriais, adotou-se o uso da abordagem estética.

Caracteriza-se como pesquisa qualitativa, de natureza exploratória e descritiva, através da qual foi realizado um estudo de múltiplos casoa em duas empresas de grande porte. Os dados foram coletados por meio de técnicas diversificadas, abrangendo vinte e cinco participantes: entrevista semiestruturada, história de vida, grupo focal e observação não participante. Tais dados foram analisados por meio de análise de conteúdo, seguindo as categorias analíticas. Todo o processo da pesquisa teve como apoio o programa de análise em pesquisas qualitativa, o NVivo®10.

Com a aplicação do esquema conceitual analítico, os resultados encontrados revelaram que a aprendizagem ocorre nas práticas cotidianas de trabalho, por meio das relações sociais e das interações. Numa relação processual, ocorre a troca de conhecimentos, experiências, ideias e sugestões, que promovem novas práticas, novas formas de trabalho e novos conhecimentos, resultando em uma aprendizagem intergeracional que contribui para a AO.

Os achados remetem à importância de não se ter como foco o antagonismo da diversidade geracional, a exemplo do que publicações atuais ainda fazem, mas sim adotar uma análise relacional que foque a co-construção e a complementaridade do convívio multigeracional nas organizações, como relações profícuas que geram aprendizagem intergeracional e AO. Aplicando o esquema conceitual analítico nas empresas pesquisadas, verificou-se a sua viabilidade e pertinência para a melhor compreensão da contribuição da diversidade geracional para a AO, trazendo contribuições teóricas, gerenciais e metodológicas.

ANTONELLO, C. S.; GODOY, A. S. (Ed.). Aprendizagem organizacional no Brasil. Porto Alegre: Bookman, 2011, p. 565-582. CULPIN, V.; MILLAR, V.; PETERS, K. Multi-generational frames of reference: managerial challenges of four social generations in the organization. Journal of Managerial Psychology, v. 30, n. 1, 2015. GHERARDI, S. Practice? it’s a Matter of Taste! Management Learning, v. 40, n. 5, p. 535-550, 2009. GHERARDI, S.; STRATI, A. Administração e aprendizagem na prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. STRATI, A. Organização e estética. Rio de Janeiro: FGV. 2007.