Resumo

As identidades podem ser construídas e reconstruídas a partir dos processos de aprendizagem dos indivíduos. Esta vai se configurando ao passo que suas experiências vividas são utilizadas para a execução de sua nova tarefa, transformado de alguma forma o seu significado de aprendizagem (DUBAR, 2005). No âmbito gerencial, Almeida e Silva (2015) ressaltam a aprendizagem gerencial poder ser compreendida através de duas concepções: a do aprendizado formal e do informal.

Ao se compreender a relevância dos processos de aprendizagem gerencial para a formação e estruturação da identidade gerencial dos indivíduos, através das inferências teóricas, dispõe-se como questão central desta pesquisa: Como os prefeitos configuram sua identidade gerencial por meio da aprendizagem no papel de gestor? Fundamentado neste problema de pesquisa, o objetivo principal do estudo consistiu em: Investigar como a identidade gerencial dos prefeitos é configurada e reconfigurada a partir de seus processos de aprendizagem.

Conforme Davel e Melo (2005) tornar-se gerente é um processo longo de construção e aprendizagem, pois em um ambiente de constantes mutações o novo gerente deve aprender a lidar com situações de diversas ordens, sejam elas técnicas, operacionais, econômicas, sociais, pessoais e/ou emocionais nas quais vão configurando a sua identidade.Durante esse processo de aprendizagem na função gerencial, de acordo com Davel Melo (2005) os gerentes modificam os processos e as estruturas organizacionais, o que resulta em novas constituições identitárias para si e para os outros.

Este estudo baseou-se em uma pesquisa qualitativa descritiva com onze prefeitos de municípios do interior de Minas Gerais num período de 12 meses. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os prefeitos, selecionados por acessibilidade e disponibilidade. Os dados foram analisados por Análise de Discurso de corrente francesa.Entende-se o discurso como uma bem sucedida, mas provisória, fixação de sentidos, em que as verdades anteriores ao discurso não existem (PINTO, 2006). Para a análise dos enunciados, as principais estratégias investigadas foram a seleção lexical e os interdiscursos.

Na análise discursiva dos prefeitos pesquisados foi observada a convergência com as perspectivas apontadas pelo referencial teórico, onde os prefeitos demonstraram que seu aprendizado gerencial ocorreu de modo formal e informal. Percebeu-se que a principal fonte de aprendizado é decorrente do informal, a partir das suas experiências profissionais e políticas, a participação na comunidade e a busca por referências. Ressalta-se, porém, a importância do aprendizado formal para auxiliar no exercício da função gerencial pois este permite um conhecimento teórico para lidar lidar com as adversidades.

Conclui-se a partir das análises apresentadas, que o contexto social e profissional dos prefeitos entrevistados influenciou a sua identidade, assim como, o aprendizado gerencial, que ocorreu de maneira formal e informal. A formação acadêmica e as atividades profissionais foram consideradas como importante fonte de aprendizado por terem fornecido aos prefeitos um conhecimento (teórico e técnico) anterior capaz de assessorar nas dificuldades inerentes da função.Destaca-se como limitação dessa pesquisa a dificuldade de acesso aos prefeitos e a abertura dos pesquisados durante as entrevistas.

ALMEIDA, N. C. P.; SILVA, J. C. S. Aprendizagem organizacional e formação de gestores: como aprendem os gestores em uma indústria do setor petroquímico. Revista de Gestão, v. 22, n. 3, p. 383-404, 2015. DAVEL, E.; MELO, M. C. de O. L. Reflexividade e a dinâmica gerencial. In: Gerência em ação: Singularidades e dilemas do trabalho gerencial. Rio de Janeiro: FGV, 2005. P. 323-333. DUBAR, C. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. São Paulo: Martins Fontes, 2005. PINTO, C. R. J.. Elementos para uma análise de discurso político. Barbarói, n. 24, p. 78, 2006.