Resumo

Dignidade é matéria recorrente que perpassa pela história da humanidade por séculos. Há estudos sobre a dignidade em diversos campos do conhecimento, como, filosofia (KANT, 2007), saúde (JACOBSON, 2009), jurídica (COCURUTTO, 2008) e educação (SASSAKI, 2009). Quanto à área das ciências sociais aplicadas, encontram-se estudos voltados à dignidade do trabalhador (HELOANI, 2004; ARAUJO, 2013; TEIXEIRA et al., 2014), todavia, não contemplam a Pessoa com Deficiência (PcD), especificamente o surdo

Nesse contexto surgiu o seguinte questionamento: Como a dignidade no âmbito organizacional é percebida pelos surdos inseridos no mercado de trabalho do Recife? Assim, o objetivo deste estudo foi compreender como a dignidade é percebida pelos surdos inseridos no mercado de trabalho, com base nas experiências vivenciadas no decorrer da sua interação com colegas, chefes e a organização, considerando que, durante essa relação, surgem elementos que podem promover ou violar a dignidade dos surdos

O referencial teórico pautou-se em estudar sobre com as pessoas surdas percebem dignidade no trabalho que exercem no âmbito organizacional, nas relações existentes com o colega, com o chefe e com a organização em si, como são as ações das políticas de recursos humanos no processo de inclusão do PcD e qual o significado de dignidade sob a ótica dos surdos. O estudo foi embasado no interacionismo, conforme Jacobson (2009) e nos estudos de dignidade no âmbito das organizações de Teixeira (2008)

A pesquisa é de natureza qualitativa, de cunho descritivo, se deu por meio de entrevista por pauta, tendo como sujeitos 13 surdos, entre oralizados e não-oralizados, que tivessem experiência de trabalho em organizações, na Região Metropolitana do Recife

Os dados indicaram que os surdos se sentem excluídos, apesar de estarem legalmente incluídos, bem como, não contemplados com as práticas de RH, não sendo alvo de oportunidades dentro das organizações. Além de se sentirem prejudicados na comunicação, veem como uma grande barreira a língua, embora tenham respaldo da legislação para quebra dessa barreira por meio de intérprete. Apesar da legislação favorecê-los em sua inclusão social, essa não ocorre na prática, tornando-se uma inclusão marginal

A inclusão deve ser praticada nas organizações visando retirar os surdos da margem social, incluindo oportunidades e a continuidade deles no mercado de trabalho, o que garante sua dignidade. A comunicação é essencial para que haja interação entre os seres, por isso “comunicar”, “falar” e ser “ouvido”, reduz barreiras e aprimora as relações no ambiente da organização, por isso, a presença de um intérprete é a concretização do comprometimento da organização na valorização do surdo

JACOBSON, N. A taxonomy of dignity: a grounded theory study. Health Systems Research and Consulting Unit Centre for Addiction and Mental Health, Toronto, Canada. University of Toronto. BMC International Health and Human Rights, p.292-307, 2009. TEIXEIRA, M.L.M. Dignidade organizacional: valores e relações com steakeholders. In: ______. (Org.) Valores humanos e gestão: novas perspectivas. São Paulo: Senac, 2008. cap.3, p. 81-94.