Resumo

Título do Artigo

A LÓGICA RACIONAL E MITOLÓGICA NO TRANSPORTE FERROVIÁRIO DE PASSAGEIROS NO BRASIL
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Palavras Chave

Racionalidade
Mitos
Transporte ferroviário de passageiros

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Abordagem Institucional nos Estudos Organizacionais

Autores

Nome
1 - Daniel Jardim Pardini
UNIVERSIDADE FUMEC (FUMEC) - Programa de Doutorado e Mestrado em Administração
2 - Henrique Tavares Maior Soares
UNIVERSIDADE FUMEC (FUMEC) - Belo Horizonte
3 - Leticia Moraes Torres
UNIVERSIDADE FUMEC (FUMEC) - FACE

Reumo

A dinâmica da lógica institucional dos serviços ferroviários de passageiros, no Brasil, se apresenta como um rico campo para entender a racionalidade e a mitificação do social presentes no cotidiano do ambiente que predomina na prestação de serviços ferroviários. De um lado, a ação racional indica que o transporte de carga traz mais benefícios em termos econômicos do que transportar pessoas; de outro, a última companhia ferroviária brasileira de fluxo constante de passageiros sobrevive por pressões de natureza social e mitológica.
Um dos grandes desafios na abordagem institucional tem sido construir as pontes entre a racionalidade e o modelo das pressões institucionais. De que maneira tratar as díades presentes na perspectiva institucional, de modo a facilitar sua utilização empírica na análise organizacional? Por mais que a racionalidade indique os meios para o crescimento, o mito pode se sobrepor. O objetivo do artigo é então analisar as manifestações discursivas de racionalidade e mitos que legitimam o trem da Estrada de Ferro Vitória-Minas – EFVM, a última ferrovia no Brasil que, diariamente, transporta passageiros.
A fundamentação teórica está ancorada na racionalidade e nos mitos. A concepção racionalista admite que a ação esteja subordinada à razão. A forma racional de estrutura é a opção mais efetiva para gerenciar as atividades produtivas, e se faz mediante a padronização de controles e processos. Já o mito é um sistema de comunicação. Representa o elo entre o inconsciente e o consciente. Apresenta-se como algo que o senso comum não discute, apenas aceita. Para conhecê-lo, exige-se que se leve em conta o passado, a memória, a tradição e a história da sociedade em análise.
Para analisar a institucionalização da racionalidade econômica e dos mitos na legitimação da estrada de ferro Vitória-Minas utilizamos o método de análise do discurso. Procuramos verificar, pelos discursos, a relação entre o simbólico e a racionalidade econômica no processo de legitimação da ferrovia. Os dados foram coletados durante o percurso de Belo Horizonte a Vitória. Foram entrevistados 14 passageiros e 8 funcionários da EFVM, totalizando 22 entrevistas. Na análise dos discursos foi realizada a leitura cética dos textos, a sua codificação e a análise das transcrições orais.
Neste tópico analisamos os discursos de gestores, operadores e passageiros da EFVM. Na racionalidade identificamos os discursos da segurança do trem, das operações e sustentabilidade da ferrovia, das contrapartidas simbólicas e dos mitos do transporte ferroviário. O discurso mítico se destina ao passageiro, morador das comunidades e brasileiros cujo passado viajaram ao longo dos trilhos hoje erradicados em nome do progresso. Apregoam ainda valores, solidariedade e afeto que já não existem no discurso empresarial, preocupado com a competência e com a competição.
O estudo mostra que a racionalidade e os mitos coexistem no continuum em que se localiza a tomada de decisão. A tendência para uma dimensão não exclui a influência da outra. O campo entre a racionalidade e o mito pode ser representado por um espaço contínuo. Considerar as posições intermediárias existentes neste campo pode contribuir para evitar modelos sectários de análise. Assim, a sobrevivência da organização depende também de sua habilidade de se tornar legitimada e isso acontece de maneira independente da sua eficiência técnica, ou da racionalidade econômica.
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