Resumo

Treinamentos, experiências, características individuais e organizacionais, e suportes de pares e superiores são fatores-chave para profissionalização, aquisição de competências e desempenho das forças policiais. Apesar disso, o estudo em conjunto dessas variáveis intervenientes na aquisição de competências e, consequentemente, no desempenho de policiais e suas organizações não tem visibilidade na literatura especializada, embora estudos sobre competências e treinamentos de forças policiais estejam em crescimento.

Objetiva-se analisar as percepções de patrulheiros rodoviários sobre fatores organizacionais e individuais, e suas inter-relações, para identificar configurações organizacionais da PRF e lacunas e condicionantes à aprendizagem de competências pelos patrulheiros. O problema de pesquisa associado a este objetivo é: como as tramas das redes semânticas “características atitudinais”, “características do cargo, do trabalho e da organização”, e “competências e treinamento”, desenvolvem-se e se relacionam?

Competências correspondem a conhecimentos, habilidades e atitudes (CHAS) dos indivíduos, mobilizado e observável no trabalho. Resultam de processos formais e informais de aprendizagem e dividem-se em cognitivas e socioemocionais. Treinamento, desenvolvimento e educação de pessoal (TD&E) refere-se a aprendizagem em organizações e em outros ambientes diversos do ambiente de trabalho, por meio de processos e ações formalmente estruturados, planejados de forma sistemática em currículos ou programas de cursos, visando ao alcance de determinados CHAs, previamente delineados.

Amostra por acessibilidade de 20 patrulheiros da Delegacia de Vitória da Conquista-Bahia em entrevista semiestruturada gerou o corpus da pesquisa de 76.761 palavras, categorizadas por análise de conteúdo para elaboração das redes semânticas. A formação de nós é interpretada como evidência de saturação das respostas dos entrevistados. As métricas utilizadas foram: Centralidade (Betweenness Centralit), que representa as pontes e para definir tamanho dos rótulos. Modularity Class para dividir a rede pelo número de agrupamentos e Force Atlas 2 para definir atração e repulsão.

A dinâmica das redes revela contextos carregados de subjetividades e seus vértices traçam caminhos intersubjetivos, mostrando que a PRF é uma organização multidimensional, em mudança, a ritmo lento, que se compõe por patrulheiros de traços atitudinais similares, com muita experiência e lacunas de formação em competências socioemocionais, embora as evocações sobre treinamentos sejam mais positivas que negativas. Sob pressão, incerteza e recursos escassos, as lacunas de competências expõem policiais, infratores e a sociedade em geral a riscos significativos

Contextos subjetivos e intersubjetivos condicionam a capacidade de aprender dos patrulheiros e sugerem a remodelagem de modelos de treinamento, de hierárquicos para mais flexíveis, assim como maior escala dos sistemas de treinamento no sentido de ensejar oportunidades mais amplas de desenvolvimento/renovação de competências, uma vez que, como já mencionado, selecionar, formar e treinar as pessoas certas para o trabalho policial não é importante apenas para o estado-empregador, é igualmente importante para a sociedade

Brandão, H. P., & Borges-Andrade, J. E. (2007). Causas e Efeitos da Expressão de Competências no Trabalho: Para entender melhor a noção de competência. RAM. Revista De Administração Mackenzie, 8(3). Verde et al., (2024). Análisis de los factores organizacionales y situacionales relacionados con los enfrentamientos policiales con arma de fuego: una revisión sistemática. International E-Journal of Criminal Sciences, (19).Zerbini, T., & Abbad, G. (2010). Aprendizagem induzida pela instrução em contexto de organizações e trabalho: uma análise crítica da literatura. Cadernos de Psicologia Social do