Resumo

Considerada multicultural, a cidade de São Paulo compreende territórios associados à concentração de determinadas etnias, apesar das diversidades ali presentes e que se renovam cotidianamente. A oriental Liberdade tem na origem dessa representação a imigração japonesa, concentração que influenciou sua paisagem cultural mediante o estabelecimento de traços e vestígios nipônicos nos estabelecimentos, ampliada com a instalação de chineses e coreanos. A degradação do território foi objeto de um programa de revitalização que o ressignificou como bairro oriental.

O foco do artigo incide sobre a revitalização de um parte do território da Liberdade a partir da perspectiva da hospitalidade. Problematiza as especificidades desse território, cujo programa de revitalização instituído nos anos 1970 visou a sua conversão em um destino turístico associado às especificidades étnicas ali presentes. Nesse sentido, seu objetivo geral é historicizar as características desse território e o programa de revitalização estabelecido para minimizar o impacto das obras viárias e da construção do metropolitano, bem como as medidas destinadas a sua consolidação.

Para tratar os aspectos étnicos, optou-se pela articulação entre turismo e migração. Rath (2007) salienta as perspectivas teóricas e desafios resultantes de pesquisas que relacionam turismo, migração, diversidade étnica e lugar. A mercantilização dos aspectos culturais e de representações simbólicas estimulam a sociabilidade nas ruas e o consumo cultural (COLLINS, 2007; TIMOTHY, 2002). A valorização da hospitalidade no programa de regeneração urbana é apontada como um recurso para a produção de novos padrões de vida urbana. (Bell, 2007)

A pesquisa pautou-se pelo levantamento bibliográfico e documental, realização de entrevistas e registros fotográficos. O levantamento bibliográfico compreendeu temáticas relativas à hospitalidade, urbanização, imigração japonesa, chinesa e coreana. O levantamento documental incidiu sobre periódicos da comunidade japonesa e imprensa paulistana. Entrevistas com representantes de instituições japonesas visaram compreender a narrativa japonesa na Liberdade e os registros fotográficos destinaram-se à coleta de evidências da narrativa estabelecida com o programa de revitalização.

O programa de revitalização possibilitou a visibilidade das características culturais do território e que foram abaladas com as obras de urbanização. As características orientais se renovaram e se perpetuaram, em razão da grande incidência de consumidores descendentes de japoneses que o frequentam, atraídos por atividades culturais, comércio e serviços especializados ali reunidos e que proporcionam uma experiência de hospitalidade diferenciada, na medida em que é planejada para que eles se sintam em um ambiente oriental.

A abordagem do programa de revitalização a partir da perspectiva da hospitalidade deslindou a perpetuidade dos aspectos culturais orientais e, consequentemente o fortalecimento de sua identidade apoiada nas ações destinadas a incentivar o convívio e a sociabilidade nesse território. Diferenciada na cidade paulistana, a experiência de hospitalidade proporcionada por funcionários e prestadores de serviços de origem japonesa, chinesa ou coreana, sejam eles imigrantes ou descendentes, estimulam a visitação de moradores e turistas.

Bell, D. (2007). The hospitality city: social relations in commercial spaces. Progress in Human Geography, 31 (1), 7-22. Hall, C. M.; Williams, A. M. (2002). Tourism and Migration. New Relationships between production and consumption. [S.l.]: Springer Science/Business Media. Rath, J. (2007) Tourism, ethnic diversity and the city. New York: Routledge. Sevcenko, N. (2004). A cidade metástasis e o urbanismo inflacionário: incursões na entropia paulista. Revista USP. São Paulo, n. 63, 16-35, set/nov.