Tradicionalmente, a literatura de P-E fit (adequação pessoa-ambiente) aponta que, enquanto o fit está relacionado à diversos resultados positivos, a falta de fit está diretamente relacionada com resultados negativos no trabalho (Kristof-Brown et al., 2005). No entanto, poucos são os estudos que exploram aspectos emocionais resultantes dessa condição, seja de forma positiva ou negativa. Ainda, há uma reconhecida escassez de estudos que investigam de que forma uma ou mais instâncias de fit entre indivíduo e ambiente interagem para explicar como os indivíduos expressam as emoções que sentem.
O objetivo do presente trabalho é o de investigar de que maneira os diferentes tipos de fit do indivíduo com o ambiente – com a organização (P-O) e com o trabalho (P-J) – estão relacionados com a expressão emocional genuína e com a expressão resultante dos níveis de esforço emocional. Dessa forma, busca-se investigar a interação entre os dois tipos de fit e seus efeitos nas formas de demonstração emocional. A partir de um experimento, o objetivo é investigar a relação causal entre fit e expressão natural de emoções, fit e atuação superficial e fit e atuação profunda. (Gabriel et al., 2015).
Embora a literatura aponte para um efeito positivo de P-O fit na expressão emocional, pouco se sabe sobre a influência do P-J fit nessa relação (Diefendorff et al, 2016). A partir da interação de ambos, espera-se um aumento na segurança psicológica e no vínculo afetivo de um indivíduo com o trabalho, levando-o a se expressar mais livremente. Assim, espera-se que os fits motivem o indivíduo a se comportar naturalmente, suportando o ajuste e demonstração genuína de emoções. Ao contrário, a falta de fit leva o indivíduo a se esforçar para suprimir as emoções, demonstrando-as de forma superficial.
Um experimento/simulação foi conduzido com 143 participantes para investigar de que forma o fit com a organização e com o ambiente de trabalho afetam a expressão natural de emoções, a atuação superficial e a atuação profunda. Um cenário e uma atividade foram desenvolvidos de forma a capturar o fit com a organização e com o trabalho. O respondente deveria indicar seus valores e personalidade (OCP e Inventário de Holland), e a resposta emocional à atividade proposta (escala de esforço emocional). Os efeitos da interação foram analisados com regressão hierárquica (Preacher et al., 2007).
Os resultados obtidos apontam para o efeito significante da interação entre P-O fit e P-J fit na expressão genuína (β = 0,17 e p < 0,05), embora a moderação seja significante apenas quando P-J fit é acima da média (β = 0,31; p < 0,05). O efeito no esforço emocional profundo (β = -0,17 e p < 0,05) foi significante, embora o efeito no esforço emocional superficial (β = -0,16 e p < 0,10) tenha sido parcialmente significante. Entretanto, a interação só é significante quando existe P-J fit acima da média (β = -0,30; p < 0,05; superficial; β = -0,29; p < 0,05, profundo).
Os resultados do estudo experimental sugerem que, isoladamente, o fit da pessoa-organização não explica a forma que um indivíduo expressa suas emoções. Com relação à expressão genuína, a mesma somente ocorre quando o individuo está totalmente adequado ao ambiente. Com relação aos tipos de esforço, quando maior o fit geral com o ambiente, menor a supressão e menor a alteração das emoções pelo individuo. Juntos, os resultados seguem a ideia de que, quanto mais adequado um indivíduo estiver ao seu contexto, mais natural sua expressão.
Diefendorff, J. M., Greguras, G. J., & Fleenor, J. (2016). Perceived emotional demands–abilities fit. Applied Psychology, 65(1), 2-37.
Gabriel, A. S., Daniels, M. A., Diefendorff, J. M., & Greguras, G. J. (2015). Emotional labor actors: A latent profile analysis of emotional labor strategies. Journal of Applied Psychology, 100(3), 863.
Kristof‐Brown, A. L., Zimmerman, R. D., & Johnson, E. C. (2005). Consequences of Individuals' fit at Work: A Meta‐Analysis of Person–Job, Person–Organization, Person–Group, and Person–Supervisor Fit. Personnel Psychology, 58(2), 281-342.