Resumo

Título do Artigo

ECOVILAS: O ROMANTISMO NA ERA DA SUSTENTABILIDADE
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Palavras Chave

Ecovilas
Romantismo
Comunidade

Área

Gestão Socioambiental

Tema

Estratégia e Sustentabilidade

Autores

Nome
1 - MATHEUS OLIVEIRA MACHADO
-
2 - Fabio Bittencourt Meira
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS) - Programa de Pós-Graduação em Adminsitração (PPGA)

Reumo

No início da década de 1990, a descrença na capacidade dos Estados e grandes corporações responderem aos problemas socioecológicos motivaram o surgimento de Ecovilas. As ecovilas se propõem a construir exemplos viáveis de resistência, sob a forma de projetos de assentamentos sustentáveis, configurando-se como comunidades intencionais que empregam princípios ecológicos de produção. Este trabalho discute as potencialidades e limites das ecovilas enquanto projeto de transformação social, ou seja, sua vocação alternativa.
A comunidade é signo central à forma de organização das ecovilas, entretanto, não é tratada com cuidado conceptual. A forma comunitária é o pivô heurístico dos projetos, mas é discutida de modo ligeiro, intuitivo e idiossincrático. Esta pesquisa problematiza a forma comunitária como matriz deste projeto alternativo, a exposição orienta-se pelo esforço em compreender o arcabouço conceptual – da organização comunitária – implícito nos projetos de ecovilas, combinando análise de conteúdo e análise do discurso para examinar textos produzidos no âmbito da Global Ecovillage Network (GEN).
Operou-se por aproximação aos referenciais teóricos da sociologia que trabalham o conceito de comunidade. A leitura foi orientada no sentido de apreender o arcabouço teórico implícito e este foi cotejado com a teoria sociológica. A análise privilegiou a busca por possíveis homologias explicitando a correspondência dentre os significados do termo comunidade e sua caracterização na teoria social. Os resultados revelaram uma correspondência com a sociologia de Ferdinand Tönnies, talvez o mais prestigiado representante do romantismo no pensamento sociológico.
Pesquisas anteriores não discutem a estratégia da rede das ecovilas, frente ao objetivo que estabeleceram para si: construir um modo de vida alternativo. Não endereçam questionamentos tais como: é possível estabelecer uma nova ordem social, ou lutar contra a cultura dominante, criando e fomentando a criação de “comunidades sustentáveis”? Sendo o conceito de comunidade o valor central do projeto, e uma vez que os proponentes do modelo recusam-se a explicitar sua filiação teórica, buscou-se compreender os limites e as implicações desse fundamento do projeto que aparece apenas de modo implícito.
O discurso do projeto de ecovilas contém diversos indícios do Romantismo, numa arquitetura que esconde o caráter social e histórico do fenômeno, sob a ideia de algo natural e supra-humano. O sujeito humano aparece como predeterminado a participar de um cosmos transcendental, sendo destituído de singularidade. Além disso, desdobra-se numa forma de pensamento sistêmico que prioriza a “ordem” e toma os conflitos por anomalias. Neste modelo de organização, relações de poder parecem emanar da natureza, o que produz um curto circuito na utopia subjacente ao projeto.
DAWSON, Jonathan. Ecovillages: New Frontiers for sustainability. Dartington: Green Books Ltda, 2006. JOUBERT, Kosha; DREGGER, Leila. Ecovillage: 1001 ways to heal the planet. Global Ecovillage Network GEN. Denmark, 2015. SIQUEIRA, Gabriel de Mello Vianna. Tensão entre as racionalidades substantiva e instrumental: estudo de caso em uma ecovila no sul da Bahia. Cad. EBAPE.BR, v. 15, 2017. TÖNNIES, Ferdinand. Community and Civil Society. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.