Resumo

Com o passar do tempo, muitas vozes (diversos agentes sociais, organizações e a própria academia) passaram a orbitar e discutir o conceito de sustentabilidade, sobretudo a partir da década de 1960, quando os efeitos negativos do capitalismo se tornavam cada vez mais agudos (VIZEU; MENEGHETTI; SEIFER, 2012). A sustentabilidade entendida enquanto um conceito em construção, admite entendimentos, posicionamentos e ações diferentes em relação a ela, o que nos motiva a defendê-la como um valor social, considerando a tradição intelectual do interacionismo simbólico.

Como ocorre o processo de significação da sustentabilidade ambiental como valor social? Assim, o objetivo geral deste ensaio é resgatar o conceito de valor social presente na versão tradicional do interacionismo simbólico, onde foi inicialmente proposto, e discuti-lo na atualidade considerando a versão estrutural do pensamento interacionista, possibilitando a análise de conceitos como o de sustentabilidade tanto no nível micro, quanto macrossociológico.

Temos na psicologia social sociológica o principal arcabouço teórico, por meio da tradição intelectual denominada interacionismo simbólico (ÁLVARO; GARRIDO, 2017), na qual também foram abordados valores. Os valores no interacionismo simbólico são sociais, extrínsecos às pessoas e estão "localizados" nos objetos devido a um processo de significação que ocorre por meio de interação social (ÁLVARO; GARRIDO, 2017). Um conceito de valor social contemporâneo pode ser discutido à luz do Interacionismo Simbólico Estrutural, revelando o debate micro-macro no qual se insere a sustentabilidade.

Ao identificarem a existência de três tipos de estruturas sociais (grandes estruturas, intermediárias e próximas), Merolla et al. (2012) apontam para uma relação macro-micro que fornece o contexto social em que ocorre a agência humana. Todas as coisas que possuem significado para um determinado grupo são consideradas valor social e as pessoas podem agir de formas diferentes em relação a um mesmo valor, inclusive de forma contrária. (THOMAS; ZNANIECKI, 2006), como no caso da sustentabilidade, em que agentes sociais procedem ações distintas frente aos significados desse conceito.

Valor social, enquanto um conceito, é considerado por nós importante porque credita o processo de valorização de algo à interação social.O conceito de sustentabilidade perpassa todos os níveis das estruturas sociais, nasce no micro por interação social e pode objetificar-se no macro. Enquanto um valor social, a sustentabilidade pode ser significada, ressignificada e mesmo abandonada, afinal um significado surge e se modifica mediante processo interpretativo e pode ser transformado (BLUMER, 1969).

BLUMER, H. Symbolic interactionism. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1969. MEROLLA, D. M; SERPE, R.T; STRYKER, S; SCHULTZ, P. W. Structural precursors to identity processes: the role of proximate social structures. Social Psychology Quarterly 75(2) 149–172, 2012. RADCLIFFE-BROWN, A. R. The andaman islanders. A study in social anthropology. Cambridge at the University Press, 1922. THOMAS, W. I.; ZNANIECKI, F. El campesino polaco en Europa y en América. Madrid: Boletin Oficial del Estado: Centro de Investigaciones Sociológicas, 2006 (Trabalho original publicado entre 1918 e 1920).