Resumo

O cenário frequente de crises e bolhas financeiras mundiais não é apenas resultado da perda de confiança dos investidores, mas também, consequência da falta de qualidade nos níveis de Governança e de disclosure nos mercados financeiros e nas organizações. O ato de se fornecer informações pode estar relacionado ao ambiente institucional e regulatório, como também pode sofrer influência da participação da firma em mercados internacionais, que exige maior transparência e ética. O disclosure é um dos mecanismos de Governança mais utilizados e está entre os aspectos centrais do processo decisório.

Dada a importância da Governança Corporativa, em específico, do Disclosure para o desenvolvimento dos mercados e consequentemente, melhor desempenho das organizações, a questão que estimulou esta pesquisa foi: existe relação entre disclosure e o nível de internacionalização das empresas não financeiras do mercado de capitais brasileiro? O objetivo foi, portanto, investigar a relação entre o disclosure e os níveis de internacionalização das empresas listadas na B3 no período de 2015 a 2017. No Brasil, existem poucos estudos que abordam disclosure e internacionalização de forma combinada.

A relação entre Governança Corporativa, Disclosure e internacionalização foi pesquisada por alguns autores, tais como: Barako, Hancock e Izan (2006) e Samaha et al. (2012), que tiveram como foco a Estrutura de Propriedade; Forker (1992), Samaha et al. (2012) e Samaha, Khlif e Hussainey (2015), com ênfase no Comitê de auditoria; e Durnev e Kim (2005), Bokpin e Isshaq (2009), Kling e Weitzel (2011) e Tong e Wei (2014) que discutiram as formas de Internacionalização. Os estudos sobre internacionalização e disclosure dividem opiniões, devido a evidência de resultados contraditórios.

A internacionalização foi mensurada por meio de três variáveis: exportações, ADR’s e a participação de estrangeiros no capital social. O disclosure foi medido através de um índice de Disclosure desenvolvido nesta pesquisa, baseado nas recomendações da ONU direcionadas para o Brasil, o UNCTAD (2013). A coleta de dados envolveu a análise de 8.856 relatórios financeiros de 328 empresas entre 2015 a 2017. A análise foi pautada em 9 modelos de regressão, sendo que a primeira etapa tratou da análise dos determinantes do índice e a segunda da sua relação com a internacionalização das empresas.

Encontrou-se relação positiva e significativa entre Disclosure e Internacionalização para as empresas internacionalizadas, ou seja, as empresas com maior grau de internacionalização apresentaram maior nível de disclosure voluntário. Tal resultado se manteve para as três medidas de internacionalização. As variáveis de destaque nos modelos foram comitê de auditoria (relação positiva com disclosure), tamanho da firma (relação positiva), tamanho do conselho de administração (relação positiva), ROA (relação inversa com disclosure) e as Big4 para empresas não internacionalizadas (relação positiva).

No geral, os resultados são fortemente consistentes com o esperado. A hipótese central do estudo – Empresas com maior nível de internacionalização apresentam maior nível de disclosure voluntário – foi comprovada por meio de nove (9) modelos de regressão, considerando numa primeira etapa a amostra geral de empresas e em uma segunda etapa a divisão entre firmas internacionalizadas e não internacionalizadas.

Samaha, K., Dahawy, K., Hussainey, K., & Stapleton, P. (2012). The extent of corporate governance disclosure and its determinants in a developing market: The case of Egypt, Advances in Accounting, incorporating. Advances in International Accounting. 28 168–178. Tong, H., & Wei, Shang-Jin. (2014). Does trade globalization induce or inhibit corporate transparency? Unbundling the growth potential and product market competition channels. Journal of International Economics, Volume 94, Issue 2, Pages 358-370.