Resumo

Embora as condições desse acesso à Internet tenham implicações para os diferentes níveis de exclusão digital, poucos estudos têm explorado os fatores que influenciam os níveis de competência digital. Em um ambiente socioeconômico marcado pela digitalização da economia e uso intensivo das TIC para automação dos processos de trabalho, o debate sobre as habilidades digitais é relevante tanto para promover a inclusão digital do cidadão, assim como para formação de profissionais capacitados para as mais diversas demandas profissionais do século XXI .

A discussão empreendida neste artigo visa contribuir para o debate sobre as desigualdades digitais no Brasil, analisando os fatores que influenciam os níveis de habilidades digitais. Neste sentido, essa investigação se fundamenta no seguinte problema de pesquisa: Como a autonomia de uso e determinantes de exclusão digital influenciam os níveis de habilidades digitais dos internautas brasileiros?

A fundamentação teórica explora estudos de exclusão digital de primeira ordem que permitam mensurar o conceito de autonomia de uso provida pelos diferentes locais de acesso, assim como pelos diferentes dispositivos de acesso. Além disso, são apresentados os resultados de estudos de exclusão de segunda ordem, que permitem conceituar e operacionalizar os domínios de habilidades digitais.

Nesta investigação foram utilizados os microdados das edições de 2014 e 2016 da pesquisa TIC Domicílios do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). Para realizar a análise de dados empregou-se a técnica de regressão linear múltipla, no intuito de evidenciar o efeito dos diferentes determinantes de exclusão digital (e.g. área geográfica, classe social, idade e gênero), locais e dispositivos de acesso à Internet sobre os domínios de habilidades digitais.

Os achados da pesquisa evidenciam a importância do celular como principal dispositivo acesso, já que esse é usado por 93,7% (2016) dos internautas brasileiros. Todavia, enquanto em grupos de maior poder econômico (classe AB) o celular exerce o papel de dispositivo de acesso complementar, em estratos sociais marginalizados (classe DE) o celular exerce o papel de dispositivo de acesso substituto aos computadores, ugerindo a existência do efeito de mobile leapfrogging.

Os resultados dessa investigação reforçam a relevância das desigualdades geográficas, de gênero, geracionais e socioeconômicas para explicar as diferenças nos níveis de competência digital. Além disso, evidenciam que usuários que se conectam à Internet em múltiplos locais de acesso e via múltiplos dispositivos são aqueles que apresentam maior capacidade em todos os domínios de habilidades avaliados, evidenciando a relação positiva entre autonomia de uso e competência digital.

HASSANI, S. N. Locating digital divides at home, work, and everywhere else. Poetics, v. 34, n. 4, p. 250-272, 2006. MASCHERONI, G.; ÓLAFSSON, K. The mobile Internet: Access, use, opportunities and divides among European children. New Media & Society, v. 18, n. 8, p. 1657-1679, 2016. ZILLIEN, N.; HARGITTAI, E. Digital distinction: Status‐specific types of internet usage. Social Science Quarterly, v. 90, n. 2, p. 274-291, 2009. VAN DIJK, J.; VAN DEURSEN, A. Digital skills: unlocking the Information Society. London: Palgrave Macmillan, 2014.