Teoria do agir comunicativo
Razão comunicativa
Voz da Net
Área
Estudos Organizacionais
Tema
Abordagens e Teorias organizacionais Contemporâneas
Autores
Nome
1 - Carmen Ligia Cesar Lopes Torres Centro Universitário da FEI-SP - São Paulo
Reumo
A ciência é construída a partir de teorias e de conceitos, que tentam nos levar à compreensão e à organização dos fenômenos humanos e não-humanos. Nem sempre os raciocínios dos pensadores são fáceis de compreender. Os textos do alemão Jürgen Habermas são considerados de difícil entendimento por muitos intelectuais. A Teoria do Agir Comunicativo, que tenta compreender as relações e formações da era moderna, constitui um desses textos. É sobre parte central dessa teoria que este artigo irá refletir, de maneira original, a partir de um vídeo cômico difundido nas redes sociais.
A finalidade deste ensaio teórico é analisar o conteúdo do vídeo ‘Voz da net’, criado e produzido pelo grupo Embrula pra viagem. Na curta história de 2 minutos e 40 segundos de duração, o enredo mostra um diálogo no qual um casal tenta uma interação comunicativa, que acaba por não ser bem-sucedida. A ideia é ilustrar o conceito habermaseano da ‘colonização do mundo da vida pelo mundo do sistema’. A conversa do casal carece de ressonância porque o modelo da fala incorporada na organização que o homem do casal trabalha invade sua linguagem, até nos assuntos pertinentes à sua vida pessoal.
A reflexão traz o contexto da Teoria Crítica, a partir dos pensamentos da Escola de Frankfurt, da qual Habermas é parte integrante. Desenvolve a motivação e os conceitos principais que embasam esta importante epistemologia das Ciências Sociais. Traz os conceitos de mundo da vida e mundo do sistema de Habermas, com a análise destes conceitos a partir do ambiente organizacional, feito por Gustavo Luis Guttierrez na obra Gestão comunicativa: maximizando criatividade e racionalidade. Além disso, traz conceitos sobre o gênero comunicativo sitcom, utilizado para analisar a teoria.
No diálogo entre Marta e Alberto, casal que protagoniza o enredo da peça comunicativa cômica analisada, há duas dinâmicas diferentes de linguagem, que espelham os dois mundos habermasianos. A linguagem do mundo da vida é protagonizada por Marta, que quer discutir o casamento. Alberto é personificado como uma pessoa quase em transe, tem uma linguagem robotizada, engessada em modelos próprios de roteiros de empresas de telemarketing. A interação intersubjetiva entre os dois não é bem-sucedida porque Alberto encontra-se, na linguagem habermasiana, ‘colonizado pelo mundo do sistema’.
O modelo robotizado de fala, sem traços de humanidade, elimina a interação simbólica e subjetiva. A complexidade dos conflitos emocionais e dos dramas das relações humanas é caracterizada por ser carregada de anseios, desejos e contradições. A interação por meio da linguagem do ‘sistema’ reduz a complexidade à lógica da racionalidade instrumental, restringindo o sentido da comunicação, que perde então as emoções e sentimentos, as tradições e as intuições próprias das interações comunicativas que se guiam, segundo Habermas, pela razão comunicativa. Assim, a interação intersubjetiva se perde.
FREITAG, B. Habermas e a teoria da modernidade. Cad. CRH., Salvador, n.22. p.138-163, jan/jun.1995. GUTIERREZ, Luis G. Gestão comunicativa: maximizando criatividade e racionalidade. Uma política de recursos humanos a partir da teoria de Habermas. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999.HABERMAS, J. Teoria do agir comunicativo – racionalidade da ação e racionalização social, vol. 1. São Paulo: Martins Fontes, 2012 a.
_____________. Teoria do agir comunicativo – racionalidade da ação e racionalização social, vol. 2. São Paulo: Martins Fontes, 2012 b.