Resumo

Este trabalho apresenta uma análise do caso Cambridge Analytica em que foram usadas informações privadas, inclusive da rede social Facebook, para análises de comportamento e construção de campanhas eleitorais. Acesso a enormes quantidades de dados pessoais oferecem oportunidades únicas para organizações e nem sempre são usadas de forma ética ou legal. O poder provido pelo controle do conhecimento e informação (MORGAN, 2006) pode abrir portas para outras fontes de poder e criar uma assimetria na organização ou no poder que esta tem em relação a terceiros.

Como organizações, como a Cambridge Analytica, podem influenciar a privacidade e o comportamento das pessoas na sociedade?

Conhecimento teórico e informação estão no centro da forma que se vive nos últimos anos e o tipo de informação é que transforma a forma de viver (WEBSTER, 2006). Na nova política, as mídias sociais, como sistema de comunicação e representação, são o meio pelo qual os movimentos sociais e políticos tem se tornado mais competentes em agir sobre as mentes das pessoas (CASTELLS, 2003). O controle de conteúdo provido aos atores sociais pelas mídias sociais adquiridos com a posse de grandes volumes de dados ameaçam o equilíbrio da democracia (SUNSTEIN, 2017).

Este caso é um exemplo claro de como mudanças alteram as relações de poder e como, se percebida a tempo, pode-se tirar vantagem desta transformação. Morgan (2006) evidencia como a posse de conhecimento e tecnologia podem ser fontes de poder. A concentração de conhecimento e capital nas plataformas de internet é grande e isso abre oportunidades para concentração do poder. Este caso traz força para a discussão sobre temas voltados à privacidade. Este assunto é discutido nos meios acadêmicos, mas é importante que cidadãos sejam capazes de entender a importância da proteção de suas informações.

Mesmo que o acesso a dados seja reduzido, outras formas de acesso e análise serão criadas e é necessário que haja a prevenção e conscientização para que outros males não sejam perpetrados no futuro. A privacidade mais do que nunca é importante para manter a liberdade política na era digital. Outros estudos se mostram necessários para analisar a função que empresas como a CA tem na sociedade e de qual forma os dados podem ser utilizados sem desconstruir a liberdade do indivíduo.

CASTELLS, M. A Galáxia da Internet. [S.l.]: ZAHAR , 2003. MORGAN, G. Imagens da Organização. Atlas, 1996. SUNSTEIN, C. R. #Republic: Divided democracy in the age of social media. 1ª. ed. New Jersey: Princeton University Press, 2017. WEBSTER, F. Theories of the Information Society. 3ª. ed. [S.l.]: Routledge, 2006.