1 - MARIA INES ROSSELLI PUCCIA FACULDADE DE MEDICINA DO ABC (FMABC) - Curso de Enfermagem
2 - Renata Cherém de Araújo Pereira ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO (FGV-EAESP) - FGV EAESP
Reumo
O Sistema Único de Saúde (SUS), rompeu paradigmas na inclusão da participação social como diretriz, mas enfrenta grandes desafios nos seus 30 anos, como o subfinanciamento e o aumento da demanda por atendimento nos serviços de saúde. O cenário de crise econômica e política impõe medidas restritivas para a alocação equânime de recursos e garantia da gestão democrática e participativa, gerando a precarização do trabalho em saúde. Cabe aos gestores a busca de alternativas para manter um clima organizacional favorável à motivação, melhoria do desempenho e eficiência dos processos de trabalho.
O clima resulta da cultura e é fator determinante para a efetivação de mudanças, que dependem dos limites e desafios impostos pelo comportamento organizacional e componentes críticos inerentes ao processo. As mudanças organizacionais no contexto crítico atual das instituições públicas de saúde, implicam na adoção de estratégias que assegurem a satisfação das necessidades dos usuários e a motivação dos trabalhadores do SUS. Neste contexto, entende-se que o gestor pode ter pouca governabilidade sobre a cultura, mas pode intervir sobre o clima organizacional, justificando-se a análise do clima.
As diretivas neoliberais, o enfraquecimento da gestão democrática e participativa do SUS, a precarização dos processos de gestão do trabalho, representam importantes entraves para a garantia da qualidade do atendimento nos serviços de saúde. Embora consolidado pelo arcabouço legal que fundamenta o financiamento, o repasse de recursos e seu funcionamento sistêmico, o SUS está vulnerável aos arranjos organizativos internos, às relações de parceria público-privadas, aos conflitos de interesse e ao poder, que imprimem novas culturas e modificações no clima organizacional.
Com o objetivo de identificar as características do clima organizacional nos serviços de saúde do SUS, foi desenvolvido um estudo descritivo, com abordagem qualitativa, a partir da revisão integrativa de 21 produções científicas, dos últimos cinco anos, com relevância temática, disponíveis nas bases de dados de administração pública e das ciências da saúde, em inglês, português e espanhol, segundo as palavras-chave selecionadas. A busca eletrônica foi norteada pela seguinte pergunta de pesquisa: “Quais as evidências sobre o clima organizacional nas instituições públicas de saúde brasileiras?”
Os principais resultados advêm de estudos no âmbito da atenção primária à saúde e da administração de serviços de enfermagem, que evidenciaram clima organizacional desfavorável no SUS e sua correlação com insatisfação das equipes e desorganização dos processos de trabalho. Desta forma, o clima interfere negativamente na qualidade da assistência e segurança do paciente; na efetivação de programas de atenção; na reorganização das práticas e na rotatividade de pessoal. Associado como fator de risco para estresse ocupacional e burnout, requer medidas de promoção da saúde mental dos trabalhadores.
A avaliação do clima organizacional pode oferecer importantes subsídios para a tomada de decisões no que se refere à melhoria do acesso aos serviços de atenção primária, urgência, emergência e saúde mental, além da qualificação da atenção por parte das equipes de saúde. A adoção de instrumentos validados de avaliação; ampliação dos canais de diálogo; revisão dos processos de trabalho; promoção da saúde mental dos trabalhadores representam medidas para melhoria do clima organizacional. Sugerem-se estudos sobre tema no SUS, face a maior produção científica no âmbito da inciativa privada.