Resumo

A sociedade do conhecimento elevou o ensino superior a uma posição de destaque que lhe impeliu a novos desafios e maior interesse em mensurar e qualificar os produtos obtidos. As acreditações representam um fenômeno impulsionado pela internacionalização educacional e se consolidam como tendência universal, embora já tradicionais em alguns países. São criticadas por mais enrijecerem e formatar programas do que assegurar sua qualidade. Todavia há argumentos que defendem seu papel de propulsoras de processos de autoconhecimento, melhoria e inovação organizacional.

Processos de acreditação se estabelecem como tendência global com a função de garantir a qualidade nas instituições de ensino superior (IES). No entanto, observa-se pari passu a identificação da acreditação como, na verdade, instrumento padronizador e regulatório da educação. O presente artigo visa desconstruir este mito visitando Michel Foucault para afastar a interpretação exclusivamente negativa do exercício do poder enquanto disciplina e entendê-lo como uma ação sobre as ações possíveis aos sujeitos nele envolvidos.

A acreditocracia é um poder que se traduz em performance e notoriedade para as IES, mas também em submissão e perda de autonomia (Dias Sobrinho, 2010;Julian; Dankwa, 2006;Polidori; Carvalho, 2016). Foucalt (1997) não considera o exercício do poder independente da liberdade dos sujeitos e de sua resistência; ele age sobre as possibilidades de ação existentes. Dependendo como é operacionalizada, a acreditação é ferramenta gerencial estimulante para processos de autoconhecimento, melhoria, mudança e inovação organizacional (Cret, 2011; Collins, 2015; Zhao; Ferran, 2016; Scheele, 2009).

Se, por um lado, a busca pelo atendimento aos padrões de qualidade pode engessar e controlar os atores e as atividades das IES, ela tem a mesma força para provocar, motivar e contribuir para a realização de empreendimentos transformadores e inovadores. Parece, portanto, que a maneira como a acreditação é concebida varia conforme ela é executada. Igualmente, um mito se fortalece à medida que sua narrativa é repetida e vivenciada.

É possível considerar que os processos de acreditação geram impacto interno nas IES com efeitos sobrepujantes ao caráter classificatório de uma análise focada em atendimento de padrões. E que, além disso, tenham relação com ações inovadoras nestes espaços. Sendo assim, a acreditação, admitida como uma atividade à qual as IES se submetem a partir de uma escolha gerencial (salvo exceções), pode ter relação direta com a inovação e não deve ser ignorada nesse aspecto.

Cret, B(2011). Accreditations as local management tools. Higher Education Collins, I(2015). Using international accreditation in higher education to effect changes in organisational culture: A case study from a Turkish university. Journal of Research in International Education Foucault, M(1997). Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Vozes. Zhao, J& Ferran, C(2016). Business school accreditation in the changing global marketplace: A comparative study of the agencies and their competitive strategies. Journal of International Education in Business