Resumo

As cadeias globais de valor (CGV) são consideradas atualmente um novo paradigma produtivo e a sua análise vem despertando interesse em função das grandes mudanças ocorridas no comércio internacional. Alguns setores, como o manufatureiro, são mais propícios a fragmentarem sua produção em decorrência das características de seus produtos. Entretanto, a análise das CGV não se limita a análise de setores mais fragmentados (De Backer e Miroudot, 2014) pois algumas atividades são diferenciadas quando analisada sob a óptica das CGV.

Apesar dos recursos naturais terem um papel indispensável ao longo da CGV (Smith, 2015), a indústria mineral não recebe muita atenção quando se trata de estratégias de inserção nas CGV. Nesse sentido, a lente teórica das CGV pode beneficiar significativamente a análise de indústrias marginalizadas, suas perspectivas de melhorias e os obstáculos que enfrentam (Tejada et al., 2011).

A mineração configura- se como uma importante fonte econômica para muitos países, e uma prova disso, é que uma única commodity em trinta e oito países são responsáveis por mais de 50% de suas rendas (UNCTAD, 2016). Apesar da demanda crescente pelos bens minerais e de grande parte dos países em desenvolvimento serem grandes fontes de suprimento global, muitos deles ainda possuem baixa capacidade de extrair valor das cadeias de produção das quais estão inseridos.

A partir desse cenário, este estudo pretende responder a seguinte questão de pesquisa: qual é a influência de determinados fatores no índice de participação da indústria mineral mundial nas CGV? O objetivo geral é compreender porque algumas indústrias minerais de determinados países estão melhores inseridas do que outras, mesmo essas últimas não sendo grandes produtores de bens minerais. Assim como objetivos específicos busca- se identificar as indústrias minerais com melhores posicionamentos nas CGV e estimar a influência das variáveis selecionadas no índice de participação das CGV.

Os resultados apontaram que 83,3% dos países em desenvolvimeto possuem baixa participação de suas respectivas indústrias minerais nas CGV. Além disso, foi constatado que as importações intermediárias reexportadas e a promoção de políticas comerciais favoráveis são fundamentais nesse processo. Por outro lado, o impacto do tráfego em portos, da produção bruta e da diversificação de bens minerais apresentaram influência negativa nessa relação, enquanto as estrições estatutárias ao investimento estrangeiro direto e a inovação não foram significantes para explicar a variável dependente.

Como contribuição teórica, este estudo busca preencher a falta de evidências empíricas para esse tipo de indústria no contexto das CGV e como contribuição social, são apresentadas evidências de quais seriam os possíveis caminhos a serem tomados pela indústria mineral dos países poucos inseridos nas CGV. Para Banga (2013), dentre os muitos desafios enfrentados pelos países em desenvolvimento um deles é a estimação do grau de participação nas CGV e os ganhos líquidos de valor agregado arrecadado, e por isso a importância das análises setoriais.