Resumo

Os Negócios Sociais (NS) enfrentam desafios comuns às empresas motivadas apenas por fins lucrativos tais como finanças, clientes, fornecedores e barreiras de entrada (ARENA et al., 2015). A estes desafios acrescenta-se a dimensão do “ser social”, ou seja, ter como missão intrínseca ao negócio colaborar com a resolução de um problema socioambiental. O foco desses empreendimentos é identificar necessidades e desenvolver soluções criativas para transformá-las em um negócio rentável, obedecendo critérios de impacto socioambiental positivo.

Há uma elevada busca pelo estabelecimento de boas práticas, conceitos e metodologias de avaliação aplicadas ao desenvolvimento dessas iniciativas. Contudo, não se discute quais os desafios para se estabelecer essas rotinas ou o que de fato tais negócios conseguem implementar no seu cotidiano. O objetivo desta pesquisa foi caracterizar quais as iniciativas de avaliação ex ante, acompanhamento e ex post de resultados e impactos sob a perspectiva dos empreendedores e investidores desses negócios, destacando os processos e seus desdobramentos.

Sabemos da complexidade envolvida na mensuração de resultados e impactos em um NS, e também da necessidade de evolução de ferramentas e metodologias acuradas para a medição do impacto socioambiental e financeiro. Mesmo com as especificidades próprias do “social” é relevante mensurar os impactos por este ser uma via para prestação de contas e transparência da empresa perante os stakeholders (ARENA et al., 2015), além de garantir legitimidade institucional. O ideal seria que tais negócios adotassem um sistema de mensuração multidirecional (POTMA, 2016).

O desenho utilizado na presente pesquisa foi o de estudo de caso múltiplos, envolvendo um total de 13 participantes. Com base no 1º Mapa de Negócios de Impacto (2017), com universo de 579 negócios mapeados no Brasil, participaram desta pesquisa 10 negócios em 5 áreas de atuação, sendo cidadania, educação, finanças sociais, saúde e tecnologias verdes. Os investidores compuseram uma amostra total de 3 divididas entre venture capital, empréstimo e participação acionária. Para se chegar a estes números foram contatados 18 empresas e 7 investidores.

Os resultados registrados com os empreendedores a partir da entrevista semi-estruturada, aponta que as práticas avaliativas são consideradas amadoras e carecem de institucionalização, em sua maioria os estudos foram conduzidos por equipe interna utilizando dados secundários. Do lado dos investidores percebemos que não há um padrão ou direcionamentos gerais para o portfólio de empresas investidas. Cada investidor adota práticas distintas, com escalas diferentes de exigências.

Argumentamos que a avaliação ainda é incipiente no contexto dos negócios pesquisados, existe uma lacuna entre o que prega a literatura do campo e o que é implementado na prática. Ademais, apesar dos empreendedores considerarem que a avaliação é importante para demonstrar valor, confirmar propósito e impacto gerado, ela não é uma prioridade. Outras atividades consideradas mais urgentes mantem-se no topo das atividades diárias. Por fim, há o desconhecimento de metodologias adequadas para avaliar as especificidades dos negócios, em especial quando se trata de mensurar o impacto.

ARENA, M; AZZONE, G; and BENGO, I. Performance measurement for social enterprise. Voluntas: International Journal of Voluntary and Nonprofit Organizations, Vol. 26 No. 2, pp. 649-672, 2015, DOI: 10.1007/s11266-013-9436-8; POTMA, L. Social impact measurement methods: important indicators, strengths, weaknesses and value placed on comparing impact. Master in Entrepreneurship, University of Amsterdam, 2016.