Resumo

A cafeicultura brasileira está sujeita a inúmeros fatores externos que podem afetar a sua competitividade. Nas últimas décadas, a cafeicultura mundial passou por grandes mudanças, como a ascensão do Vietnã ao posto de segundo maior produtor do grão, o crescimento da demanda por cafés de alta qualidade e o aumento da concentração de mercado nos setores de torrefação e exportação (PENDERGRAST, 2010). Nesse contexto, é necessário monitorar o ambiente externo para minimizar as incertezas, algo que pode ser feito por meio de técnicas e ferramentas de inteligência competitiva (VIDIGAL, 2013).

O projeto Bureau de Inteligência Competitiva do Café (BICC) disponibiliza relatórios para o setor cafeeiro brasileiro com acesso livre. O BICC tem como objetivo reunir, analisar e divulgar dados e informações que auxiliem na tomada de decisão dos atores da cadeia do café (RELATÓRIO INTERNACIONAL DE TENDÊNCIAS DO CAFÉ - RITC, 2017). Desde 2012, o Bureau publica o Relatório Internacional de Tendências do Café, uma publicação mensal que reúne informações sobre a cafeicultura no mundo e faz análises sobre suas implicações para o país.

Diante da importância do monitoramento do ambiente externo, o presente artigo se propõe a avaliar a eficácia do modelo de inteligência competitiva utilizado pelo BICC. O objetivo principal é analisar se as recomendações publicadas no Relatório Internacional de Tendências do Café, referentes ao segmento de torrefação, se confirmaram com o tempo. As informações publicadas pelo relatório ao longo de 2013 e 2014 foram confrontadas com diversas fontes para avaliar sua eficácia no monitoramento do ambiente externo.

Este trabalho analisa a eficácia do Relatório Internacional de Tendências do Café (RITC), publicado pelo Bureau de Inteligência Competitiva do Café (BICC), como fonte de informação capaz de antecipar tendências importantes para a cafeicultura. O projeto BICC começou em 2010 com apoio financeiro da FAPEMIG. Desde 2012, recebeu apoio do Polo Excelência do Café e do Consórcio Pesquisa Café. As atividades do projeto são realizadas na Universidade Federal de Lavras.

Os relatórios analisados contêm trinta e uma análises sobre a indústria internacional de café, divididas em nove tendências diferentes. A maior parte delas (vinte) aborda o desenvolvimento do mercado de café em cápsulas no Brasil e no mundo, compreendendo três das nove tendências. Quando os relatórios foram publicados, em 2013 e 2014, esse segmento ainda era pequeno e pouco conhecido, mas nos anos seguintes houve grande desenvolvimento, o que confirma a eficácia do monitoramento de notícias. Das outras seis tendências identificadas, quatro se mostraram relevantes com o passar do tempo.

De modo geral, o relatório antecipou tendências importantes para a indústria do café, principalmente no segmento de café em cápsulas. Os resultados obtidos por esta pesquisa também mostram que o monitoramento constante de notícias internacionais é eficaz como técnica de inteligência competitiva. Tal metodologia pode ser empregada por outros agronegócios brasileiros. Por se tratar de um projeto financiado com recursos públicos e voltado para um importante segmento econômico, a avaliação do modelo empregado pelo BICC pode orientar ações futuras para o café demais culturas agrícolas.