Resumo

A despeito do significativo volume de consumo de pornografia e dos altos valores que esse mercado movimenta, é curioso notar que a literatura atinente aos estudos do consumo explorou pouco essa temática, o que se configura como um vasto campo de descobertas para compreender alguns fenômenos da sociedade contemporânea. No Brasil, estudos envolvendo o consumo de pornografia ainda são incipientes.

A pesquisa tem o objetivo de compreender como se configura o consumo de pornografia on-line por mulheres. A partir da análise dos dados, na qual emergiram diversas categorias, elegeram-se para discussão nesse artigo dois objetivos: discutir como os processos simbólicos e culturalmente situados existentes no consumo de pornografia on-line por mulheres contribuem para a (re)significação do sexo e da própria pornografia e expor apontamentos no tocante aos estereótipos, aos preconceitos e aos tabus que permeiam o discurso referente ao consumo de pornografia on-line por mulheres.

A revisão da literatura se dedicou a discutir a dois temas: o primeiro sobre sexualidade e o segundo sobre a pornografia. O primeiro discute questões sobre sexualidade, defendendo a ideia de que o conceito tem um caráter multifacetado. A segunda seção da revisão de literatura foca nas discussões sobre pornografia, com ênfase nos conceitos, na diferença entre pornografia e erotismo e no seu desenvolvimento ao longo do tempo culminando com sua inserção na vida das pessoas por meio das tecnologias digitais.

A pesquisa pode ser considerada de cunho interpretativista, de natureza exploratória com abordagem qualitativa. Essa pesquisa foi dividida em dois grandes momentos. No primeiro momento, foi conduzida uma observação em um grupo secreto da rede social Facebook. O segundo momento da pesquisa foi desenvolvido a partir do material coletado durante a observação nesse grupo do Facebook com a condução de entrevistas em profundidade com 11 mulheres do referido grupo. Na etapa de análise dos dados, lançou-se mão da análise do discurso de vertente francesa como uma proposta metodológica.

A análise dos resultados permitiu a discussão de duas categorias. A primeira diz respeito às ressignificações promovidas por meio do acesso à pornografia on-line. Quanto à segunda categoria, atinente aos interdiscursos concernentes à pornografia e seu consumo. Os relatos acerca do consumo de pornografia on-line expressam sentimentos ambíguos. Se, por um lado, são atribuídos sentidos negativos, associados ao preconceito, à censura, ao tabu; por outro, é atribuído o sentido de libertação dos estereótipos construídos socialmente acerca da prática sexual.

Quanto à pornografia, há uma clara distinção entre a indústria pornográfica – filmes e vídeos, que reforçam o padrão composto por relações, na maior parte das vezes, heterossexuais, com atores que representam os estereótipos de beleza – e os outros tipos de conteúdo, como literatura, gifs e vídeos amadores. Os elementos interdiscursivos empoderamento, autoconhecimento, ampliação de possibilidades, prazer e liberdade encontram eco na ideia de que os sujeitos sociais são agentes de suas próprias práticas e não somente reprodutores da estrutura de significados estabelecidas pela cultura.

Bozon, M. (2004). Sociologia da sexualidade. FGV Editora. Cabral, R. V., & Romeiro, A. E. (2011). Sobre a sexualidade controlada: poder e repressão sexual em Michel Foucault. Educação, 1(1), 87-106. Díaz-Benítez, M. E. (2010). Nas redes do sexo: Os bastidores do pornô brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar. Ribeiro Neto, A., & Ceccarelli, P. R. (2015). Internet e pornografia: notas psicanalíticas sobre os devaneios eróticos na rede mundial de dados digitais. Reverso, 37(70), 15-22.