Resumo

Devido às incertezas dos ambientes nas quais as empresas estão inseridas, as conexões políticas são um importante recurso. Essas conexões podem ser legítimas, por meio de participação de políticos ou ex-funcionários influentes do governo em conselhos de administração, governo como acionista ou por meio de doação às campanhas eleitorais ou ilegítimas, baseadas na corrupção, por meio de propinas ou subornos. As empresas ao se conectarem politicamente, buscam flexibilidade nas decisões políticas e a teoria institucional pode explicar as motivações da busca por esses mecanismos.

As pesquisas sobre conexões políticas no contexto empresarial cresceram de maneira tímida até 2000 e depois desse período, gradativamente, foram se tornando um pouco mais expressivas. Poucos estudos têm feito a relação entre as conexões políticas e as práticas de corrupção e sua influência no desempenho empresarial. Diante dessa lacuna, essa pesquisa tem por objetivo investigar as relações entre as conexões políticas, corrupção e o desempenho de empresas. Com isso, pretende-se responder qual é o impacto das conexões políticas e da corrupção no desempenho das empresas?

Conexões políticas são praticadas por empresas que desenvolvem laços em prol de seus interesses, motivadas pela dependência de recursos (Camilo, Marcon & Bandeira-de-Mello, 2012). Elas podem se configurar de diversas formas, pelas estruturas de propriedade, por doações a campanhas ou pelas ligações entre membros do governo e empresas (Macedo, Silva & Machado, 2015). As restrições impostas pelos governos geram incertezas e assimetrias nas empresas e que podem ser amenizadas com as conexões. Embora as restrições feitas pelos governos possam abrir espaços para a corrupção (Krueger, 1974).

Selecionei 202 empresas listadas na B3 S.A. no período de 2012 a 2017. Para a análise das doações para a campanha eleitoral de 2014 utilizei os portais: TSE, As Claras e Operação Lava-Jato. Consultei os financiamentos do BNDES para as empresas e pesquisei em notícias sobre o envolvimento das empresas em corrupção. A variável dependente é o desempenho da empresa. Variáveis independentes: conexões políticas, (dados sobre as doações para campanhas eleitorais), financiamento do BNDES e medido o grau de corrupção das empresas. Variáveis de controle: porte da firma (ativo total) e a receita bruta.

Das 202 empresas, 46 fizeram doações para a campanha eleitoral de 2014, 118 tem financiamentos ativos do BNDES, 116 estão envolvidas em corrupção. Com relação ao desempenho, ao se comparar os períodos antes e após as eleições de 2014, 78 empresas aumentaram o ROE, 118 diminuíram e 6 se mantiveram. Das 86 não envolvidas em corrupção três fizeram doações expressivas à campanha de 2014. Dessas, duas aumentaram o ROE e uma diminuiu. Do total das 86 empresas idôneas, 33 aumentaram o ROE (média de 2015 a 2017) se comparados a média dos períodos até 2014, as demais mantiveram ou diminuíram.

Os resultados confirmam que as conexões políticas são um importante recurso para as empresas e afetam positivamente o seu desempenho, mas, o envolvimento com a corrupção impacta negativamente. Em relação aos resultados empíricos, essa pesquisa fortalece os estudos sobre conexões políticas no contexto de países emergentes. Também amplia a discussão sobre as intenções das doações para as campanhas eleitorais e traz a reflexão sobre as empresas estarem sendo vilãs ou vítimas de ambientes altamente corruptos.

Camilo, Sílvio Parodi Oliveira., Marcon, Rosilene., & Bandeira-De-Mello, Rodrigo. (2012). Political connections and performance: a study of firms listed on the BM&FBovespa. Revista de Administração Contemporânea, 16.(6): 806-826. Krueger, A. O. (1974). The political economy of the rent-seeking society. The American economic review, 64(3), 291-303. Macedo, J. M. A., Silva, C. A. T., & Machado, M. A. V. (2015). Conexões políticas e as empresas brasileiras: um estudo experimental sobre as decisões de investimento no mercado de capitais. Advances in Scientific and Applied Accounting, 8(2), 157-178