Resumo

A evasão é um fenômeno em crescimento que aflige as Instituições de Ensino Superior (IES) públicas e privadas. No Brasil, os estudos sobre a evasão universitária são recentes, tendo sido iniciados em meados do Século XX. Gilioli (2016) explana que as medidas de antievasão dependem de ações e programas de assistência e de orientação a serem implementados, desenvolvidos ou aperfeiçoados pelas próprias instituições de ensino superior. Assim, torna-se relevante conhecer os atributos de alunos e instituições associados ao fenômeno da evasão.

Para Tinto (1975), as causas de evasão subdivididas em externas e internas à instituição relacionadas ao período pré-universitário e universitário. Nesse sentido, surge a questão: Quais características das instituições e dos alunos de Ciências Contábeis estão relacionadas às taxas de evasão nas IES brasileiras? O propósito deste estudo é mapear as características das IES, dos cursos e dos alunos e relacioná-las aos índices de evasão das instituições. Foram analisadas 291.418 observações, utilizando-se dos dados públicos do Censo Nacional da Educação Superior.

Para Tinto (1975), o processo de evasão decorre do nível de integração social e acadêmica do estudante à instituição de ensino. Essa integração ao ambiente acadêmico está relacionada aos atributos individuais (raça, sexo, habilidades acadêmicas), às experiências anteriores (formação e histórico escolar, desenvoltura nos relacionamentos sociais) e ao contexto familiar (status socioeconômico, ambiente familiar, valores e expectativas). No Modelo de Integração do Estudante (MEI), desenvolvido pelo autor as causas são analisadas em dois períodos: pré-universitário e universitário.

Foram utilizados os microdados do Censo Nacional da Educação Superior dos anos de 2015 e 2016 disponibilizados no sítio eletrônico do INEP. Foram levantados dados dos alunos, curso e instituição. A seleção das variáveis deu-se a partir do levantamento de estudos anteriores relacionados à evasão. Foram analisadas 13 variáveis selecionadas para o estudo, em um total 291.418 observações. Para o cálculo da evasão anual, utilizou-se a metodologia empregada por Silva Filho et al. (2007). Para o tratamento dos dados, foi realizada a análise descritiva e a regressão logística binomial.

Evidenciou-se que a taxa média de evasão geral é alta, indicando que 31% dos alunos dos cursos de Ciências Contábeis no Brasil evadem. Identificou-se relações significativas das variáveis relacionadas aos alunos, ao curso e a instituição nos índices de evasão das IES. Nas causas externas, as variáveis significativas foram “sexo”, “idade do aluno”, “cor”, “escolaridade” e “renda”. Nas causas internas, as variáveis que apresentaram relação com as taxas de evasão foram “categoria administrativa”, “modalidade ensino”, “turno de oferecimento do curso”, “financiamento” e “apoio social” .

Todas as variáveis consideradas para este estudo se mostraram estatisticamente relevantes para determinar o nível de evasão das IES referente aos cursos de Ciências Contábeis. Enfatiza-se, a importância do papel governamental na oferta e estruturação de políticas de financiamento estudantil para redução da evasão, sobretudo, no ensino superior. Verificou-se que as variáveis relacionadas ao aluno têm forte influência na evasão. O estudante, ao iniciar a vida universitária, carrega consigo as características anteriores ao ingresso e essas passam a refletir na sua integração ao novo ambiente.

GILIOLI, R. de S. P. Evasão em Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil: expansão da rede, SISU e desafios. Disponível em: < http://www2-e-pesquisa/publicacoes/estnottec/areas-da-conle/tema11/2016_7371_evasao-em-instituicoes-de-ensino-superior_renato-gilioli>. SILVA FILHO, R. L. L.; MOTEJUNAS, P. R.; HIPÓLITO, O.; LOBO, M. B. de C. M. A evasão no ensino superior brasileiro. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 132, p. 641-659, 2007. TINTO, V. Dropout from higher education: a theoretical synthesis of recent research. Review of educational Research, v. 45, n. 1, p. 89-125, 1975