Resumo

Nas últimas duas décadas, vários trabalhos têm enfocado o estudo das chamadas “ferramentas de estratégia”. Contudo, em geral, essas pesquisas negligenciam as “tecnologias organizacionais” (e.g. as oficinas de trabalho), focando exclusivamente em ferramentas analíticas. Dar aos workshops um lugar de destaque na pesquisa pode ser uma via promissora para atender aos recorrentes apelos por uma melhor combinação dos níveis “macro” e “micro” da formação de estratégia. Além disso, pode fornecer um melhor entendimento de como essas oficinas são desenvolvidas e usadas na prática gerencial.

Os workshops, apesar de serem uma das principais tecnologias organizacionais usadas na prática da estratégia, foram estudados apenas de forma ampla e introdutória até o momento. Falta, ainda, um adequado delineamento do workshop como um objeto de pesquisa abrangente em estratégia, posicionando-o no contexto da diversidade de frentes de investigação já abertas pela tradicional pesquisa sobre planejamento estratégico, enriquecida por sua retomada a partir da perspectiva da estratégia-como-prática. Contribuir para preencher esta lacuna é o objetivo deste artigo.

Os workshops são elementos macroprocessuais constituídos a partir de uma microdinâmica, não apenas discursiva, mas que combina intercurso social e materialidade, para a formação de estratégias intencionadas em episódios de estratetização que pontuam o fluxo de atividades cotidianas dos estrategistas. A pesquisa operacional soft, enquanto um campo dedicado à tomada de decisão coletiva em contextos que demandam interação social para a estruturação do problema em questão, tem sobressaído como um outro fórum de destaque para o nascente debate acadêmico acerca de workshops de planejamento.

Apresenta-se um framework conceitual para se fazer sentido das pesquisas - passadas e futuras - sobre workshops de estratetização. Nele, as “oficinas de trabalho” foram localizadas no contexto dos processos e práticas de formação de estratégia. Estes níveis “macro” e “micro” se relacionam por uma dinâmica de instanciação progressiva dos episódios de estratetização a partir do fluxo de atividades cotidianas dos estrategistas. Afinal, nestas, podem surgir questões estratégicas, cujo conteúdo seja importante o suficiente para disparar - e sustentar ao longo do tempo - a realização dos workshops.

Mais de uma dezena de artigos publicados em periódicos de alto impacto internacional foram detalhadamente revisados, bem como vários outros trabalhos de escopo temático mais abrangente, mas notadamente relevantes para contextualizar e fornecer uma estrutura para a pesquisa sobre workshops de estratégia. Os principais elementos conceituais destacados por essas publicações e a maneira como eles são usualmente relacionados foram, então, sintetizados em um framework pictórico que pode servir como referência para o direcionamento de novas investigações acadêmicas sobre essas oficinas de trabalho.

Healey, M. P., Hodgkinson, G. P., Whittington, R., & Johnson, G. (2015). Off to Plan or Out to Lunch? Relationships between Design Characteristics and Outcomes of Strategy Workshops. British Journal of Management, 26(3), 507-528 Hodgkinson, G.P., Whittington, R., Johnson, G., & Schwarz, M. (2006). The role of strategy workshops in strategy development processes: Formality, communication, co-ordination and inclusion. Long Range Planning, 39(5), 479-496 Johnson, G., Prashantham, S., Floyd, S. W., & Bourque, N. (2010). The Ritualization of Strategy Workshops. Organization Studies, 31(12), 1589-16