Resumo

A partir do estudo da hospitalidade, é possível compreender fenômenos sociais, tais como, os deslocamentos humanos (ACNUR, 2017), sejam forçados (refúgio, asilo político) ou espontâneos (migrações), para além de um cenário demarcado por uma soleira a ser transposta, de uma relação restrita a hóspede e anfitrião (MONTADON, 2011).

O presente trabalho visa discutir, a partir de uma breve reflexão, os conceitos de hospitalidade, inclusive, no tocante à hospitalidade incondicional (DERRIDA, 2000; 2001; 2003) e à comensalidade, tanto no âmbito de instrumento da hospitalidade (BOUTAUD, 2011), como de elemento de uma antropologia política da hospitalidade (BOUDOU, 2017) para dessa maneira fornecer o devido debate teórico para a análise da problemática da inserção dos refugiados na população economicamente ativa através de empreendimentos gastronômicos protagonizados por eles.

Em “A hospitalidade absoluta ou incondicional de Jacques Derrida”, é realizada uma reflexão à luz do conceito de hospitalidade absoluta. No segundo subitem: “Jean Jacques Boutaud: a comensalidade enquanto instrumento de hospitalidade”, o autor trata do ato de compartilhar a mesa, da realização das refeições servem de experiências de acolhimento e sociabilidade entre anfitrião e hóspede. Em: “Benjamin Boudou: a comensalidade como elemento de uma antropologia da hospitalidade” traz o ato de comer juntos, como atividade de natureza integradora entre anfitrião e convidado (hóspede).

Uma possível aproximação teórica pode ser feita entre os autores aqui abordados. Boutaud trata da comensalidade enquanto dimensão da hospitalidade, o que o aproxima de Boudou, que vê no ato de comer juntos, uma ação de natureza integradora entre anfitrião e hóspede. Boudou também se aproxima de Derrida, ao utilizar o método da desconstrução para investigar o conceito de hospitalidade, tentando elucidar a aporia proposta pelo filósofo francês.

Os negócios gastronômicos protagonizados por esses refugiados (DESLOCAMENTO CRIATIVO, 2018) acabam por ser uma via de mão dupla da hospitalidade: ao passo que são acolhidos pela cidade de São Paulo, por seus habitantes; ao mesmo tempo, eles acolhem, através de sua gastronomia, de seus pratos e ingredientes não somente os estômagos dos paulistanos, como suas almas, interessadas em fazer uma imersão cultural pelas diferentes etnias colocadas a partir do estatuto do refúgio.

BOUDOU, Benjamin. Elementos para uma antropologia política da hospitalidade. (p. 99-118) In: BRUSADIN, L. B. (org.). Hospitalidade e dádiva: a alma dos lugares e a cultura do acolhimento. Curitiba: Editora Prismas, 2017. BOUTAUD, Jean Jacques. Comensalidade: compartilhar a mesa. (p. 1213-1230) In: MONTANDON, Alain. O livro da hospitalidade. São Paulo: Senac, 2011. DERRIDA, Jacques. Anne Duformantelle convida Jacques Derrida a falar Da Hospitalidade. Trad. Antonio Romane. São Paulo: Escuta, 2003.