Resumo

Título do Artigo

Economia do compartilhamento: a relação entre as discussões conceituais e o campo de práticas apresentado pela literatura.
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Palavras Chave

Economia do compartilhamento
Economia colaborativa
Dádiva

Área

Empreendedorismo

Tema

Empreendedorismo Social

Autores

Nome
1 - Francisco Rodolfo Xavier Ramalho
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA) - Salvador
2 - Ariádne Scalfoni Rigo
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA) - Escola de Administração

Reumo

O compartilhamento por si mesmo não é um fenômeno novo (BELK, 2017; JOHN, 2013a, 2013b; MORLIGHEM, 2014)Desde a pré-história o homem foi habituado a compartilhar. Mesmo o compartilhamento como parte de um sistema de trocas já podia ser observado em sociedades primitivas. Conforme pode ser visto em Mauss (1950), a partilha já era praticada com diversas outras finalidades: gerar vínculos, relações de reciprocidade e de obrigações. No entanto, a partir da popularização da chamada economia do compartilhamento, o uso do termo tem ganhado significados, por vezes, distorcidos.
O objetivo deste trabalho é analisar a noção de “compartilhamento” na literatura sobre economia compartilhada à luz da antropologia econômica. Na antropologia econômica encontramos um arcabouço teórico que amplia as possibilidades de interpretação da noção de partilha e mesmo de economia compartilhada, pois significa considerar uma multiplicidade de interesses tanto utilitários quanto substantivos que influenciam as condutas humanas e as ações coletivas.
A economia do compartilhamento emerge no século XXI como uma proposta de mudança no seio do capitalismo, buscando promover a sustentabilidade, a cooperação e a colaboração através do uso da tecnologia (CORNELLA, 2012; RIFKIN, 2014; SCHOR, 2014). Tais ideais de sustentabilidade, empatia e colaboração parecem ir de encontro aos ideais do mercado, tais como a competição, o oportunismo e o materialismo. A dádiva constitui o sistema de relacionamentos propriamente sociais uma vez que esses são irredutíveis aos relacionamentos de interesse econômico e de poder (GODBOUT, 1998).
A noção de economia compartilhada que a interpreta como uma nova forma de economia surgida a partir de iniciativas sustentáveis, colaborativas e direcionadas por uma lógica que busca alternativas à lógica mercadológica, a nosso ver, entende a noção de compartilhamento de forma pelo menos aproximada às noções do mecanismo da dádiva. No entanto, essa noção se perdeu em meio às práticas tomadas pelos negócios que se dizem “de economia compartilhada”.
Propõe-se chamar de economia do compartilhamento somente aquelas organizações que possuam claro alinhamento ao entendimento inicial da mesma. Tal proposta se ancora no fato de o termo “compartilhamento” estar vinculado a formas de trocas que transcendem a simples busca pelo lucro. Expressão que poderia se mostrar mais coerente com a prática das gigantes do setor, a exemplo de Uber e Airbnb, poderia ser economia de plataformas, uma vez que tais organizações se colocam somente como plataformas online que fazem intermédio entre os usuários.
BELK, R. Sharing versus pseudo-sharing in Wen 2.0. The Antropologist, v. 18, n.1, 7-23, 2017 CAILLÉ, A. Antropologia do Dom: o terceiro paradigma. Petrópolis RJ: Vozes, 2002a. GODBOUT, J. O espírito da dádiva. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1999. JOHN, N.A. Sharing and web 2.0: the emergence of a keyword. New Media and Society, 15(2), 167-182, 2013a. MAUSS, M. Ensaio sobre a dádiva. Lisboa: Edições 70, 1950. WITTEL, A. Qualities of sharing and their transformation in the digital age. International Review of Information Ethics, 15: 3-8, 2011