Desde o início da era industrial o trabalho é dominado pelo sexo masculino. Com o advento da globalização a diversidade de gênero se tornou uma tendência crescente na força de trabalho. Abreu e Meirelles (2012, p. 11) identificaram que “as mulheres ocuparam o mercado de trabalho, mas algumas áreas ainda são predominantemente masculinas e, nos cargos mais altos, em praticamente todas as áreas, elas são minoria”. Apesar do discurso da igualdade de gênero, há uma narrativa que cria a ficção de que as mulheres são minoria no ambiente de trabalho (NOGUEIRA, 2006; MATTOS, 2009; KANAN, 2010).
Partindo de uma ótica que envolve relações de poder, esta investigação busca abordar a diversidade no espaço organizacional com enfoque no empoderamento e liderança da mulher dentro do âmbito administrativo na Grande Vitória - ES. O proposto por este estudo é o de explorar o empoderamento da mulher nos processos de trabalho por meio de relatos de sua trajetória profissional, ou seja, responder à seguinte pergunta: Que dificuldades foram enfrentadas por mulheres em cargos de liderança em suas trajetórias profissionais que poderiam ser analisadas a partir de uma ótima de empoderamento?
Foucault (1984) descreve as relações múltiplas de poder, “existem relações de poder múltiplas que atravessam, caracterizam e constituem o corpo social [...]”. Segundo Foucault (1984), tais relações de poder não possuem força sem um discurso verdadeiro. Para Alvesson e Willmott (1996) verdades não podem ser separadas das relações de poder e relativamente, se o sujeito autônomo que supera os efeitos opressivos e distorcedores de consciência do poder é um ideal alcançável. Tal caso merece investigação como as mulheres e as relações de poder no exercício de seu cargo de liderança.
O objeto de estudo foram mulheres com diferentes cargos de gestão em empresas na Grande Vitória durante o período de 24/04/2018 a 01/06/2018. A pesquisa consistiu em um roteiro de entrevista composto com quinze perguntas documentadas e gravadas conforme permissão. As entrevistadas foram identificadas por numeração, cargo e instituição de trabalho. O critério de seleção foi o de gênero; tempo de profissão; e cargo de chefia, podendo este ser em empresa própria ou em organização pública ou privada. Foram contatadas ao todo 14 mulheres, mas apenas 9 puderem realizar as entrevistas.
Todas entrevistadas declararam que foi necessária persistência para atingir suas metas, e a consciência de que para se sobressair no mercado de trabalho necessitavam estudar e se especializar. No tocante ao futuro no mercado de trabalho houve convergência para a busca do espaço no mercado profissional, que se traduz na declaração da Entrevistada 3: “Eu espero muito que os homens passem a valorizar suas esposas, a incentivar suas esposas. Por que as vezes o homem tem uma experiência maior, profissionalmente falando, e ele pode dar uns toques. Os homens devem acreditar mais no poder da mulher”.
Embora a luta pelo direito das mulheres aconteça há muitos anos (MATTOS, 2009; FLEURY, 2013), falar abertamente sobre a problemática, os desafios diários e as percepções das entrevistadas faz parte da contribuição deste trabalho. Muitas entrevistadas se viram surpresas ao se depararem com o tema não sabiam como responder algumas respostas, pois nunca analisaram seu ambiente de trabalho com a visão explorada neste artigo.
COSTA, A. A. Gênero, poder e empoderamento das mulheres. A química das mulheres. Salvador, março, 2004.
FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 2012.
FLEURY, M. T. Liderança feminina no mercado de trabalho. GV-executivo, V.12, N.1, 2013.
KANAN, L. A. Poder e liderança de mulheres nas organizações de trabalho. Organização e Sociedade, V. 17, N. 53, pp. 243–257, 2010.
MATTOS, A. H. G. A ocupação feminina no mercado de trabalho: desafios para a gestão contemporânea das organizações. Gestão Contemporânea, V.6, N.6, pp. 23–43, 2009.