Resumo

Título do Artigo

Reflexões sobre o Imperativo do Gozo e a Mercadorização da Cultura
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Palavras Chave

Imperativo do Gozo
Mercadorização
Cultura Popular

Área

Marketing e Comportamento do Consumidor

Tema

Consumo, Sociedade e Materialismo

Autores

Nome
1 - Brunno Fernandes da Silva Gaião
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA (UEPB) - Curso de Administração
2 - André Luiz M. de Souza Leão
-

Reumo

Nossa sociedade é marcada pelo imperativo do gozo, uma pressão pela satisfação de nossos desejos. Neste movimento de mudança ideológica o gozo se torna algo obrigatório. O entendimento žižekiano da ideologia do gozo enquanto constituinte de nossa realidade se mostra pertinente num contexto de crescente mercadorização da cultura. Cada vez mais a cultura é regida por uma lógica de mercado, encerrando em si significados específicos. As festas populares, o artesanato, a culinária e outas manifestações culturais são resignificados pelo mercado e oferecidos como produtos prontos para o consumo.
Partindo da teoria žižekiana e tendo em mente o contexto da sociedade pós-industrial contemporânea, este ensaio tem por objetivo discutir a relação existente entre a ideologia de imperativo do gozo vigente e o crescente processo de mercadorização da cultura em nossa época. Assim, buscamos refletir sobre as consequências deste processo para a sociedade. Para tanto recorreremos ao caso particular do Carnaval, especialmente a festa da cidade do Recife, como recurso ilustrativo que auxilie a condução de nossa reflexão.
Hoje a cultura é instrumentalizada como um recurso a ser aplicado para alcançar o crescimento econômico e sociopolítico, naquilo que pode ser denominado como “capitalismo cultural”. Somente segmentos da cultura que apresentem potencial para a geração de retorno econômico e social recebem investimentos, em detrimento de manifestações culturais menos atrativas para a lógica do capital. Esta lógica nos parece relacionada com a ideologia de imperativo do gozo, subjacente a nossa sociedade, na qual somos apresentados a objetos de desejo incessantemente e interpelados a gozar a todo instante.
A definição do que é cultura e suas manifestações estabelece os parâmetros de como as festas populares devem ser realizadas e fruídas. As diferentes manifestações e formas de brincar a festa poderiam ser consideradas objetos de desejo do sujeito transformado em consumidor, que, sob o signo do imperativo do gozo, apresentaria a ânsia por vivenciar a festa em sua plenitude. Uma festa concebida, planejada, e preparada dentro do horizonte da experiência de consumo, relegando ao segundo plano a dimensão histórico-cultural na realização dos eventos.
É por meio desta economia libidinal que o capitalismo cresce e avança em direção à transformação dos mais variados elementos da vida social em mercadorias passíveis de conversão em objetos de desejo, em prol da perpetuação e manutenção da lógica de mercado capitalista. Assim, a cultura popular, em suas diferentes manifestações, passa a ser também absorvida e assimilada por esta lógica, transformando-se, enquanto uma particularidade concreta específica, em mais uma mercadoria substitutiva do objeto de desejo. A festa carnavalesca surge, então, como um caso representativo desta realidade.
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