Resumo

A ACD é uma abordagem teórico-metodológica para os estudos que compreendem a linguagem como prática social. Assim, ressalta-se sua importância em um momento onde a linguagem ocupou a centralidade do capitalismo. As universidades não fogem à regra das cadeias hegemônicas. Elas rendem-se à função da produtividade, reproduzindo o ideário e os discursos do mercado. Neste meio, o ensino em Adm. se apresenta mais voltado para premissas de maximização de lucros, do que para a prática de valores sociais. Poucos são os cursos que oferecem disciplinas que abordam temas sociais para seus estudantes.

Considerando a relação íntima e dialética entre os discursos e as práticas sociais, buscou-se responder: Que discursos perfazem a experiência dos estudantes de Administração nos projetos sociais da disciplina de Empreendedorismo Social (ES)? Partiu-se do pressuposto de que o engajamento com a prática do ES tende a promover uma mudança discursiva nos estudantes acerca do discurso gerencial hegemônico da Administração. Assim, o objetivo central consistiu em compreender, sob a ótica da ACD, as concepções discursivas dos estudantes sobre a experiência em projetos sociais no curso de Adm. da UNIFEI

Este item se destina a conceituar a Análise Crítica do Discurso (ACD) e o Empreendedorismo Social (ES), apresentando brevemente os construtos teóricos que nortearam a pesquisa. A ACD é uma perspectiva teórica que considera a relevância do contexto sócio-histórico para a compreensão de problemas da análise social e da mudança social. É uma análise de práticas sociais e discursivas. A noção discursiva do ES caminha na direção de agregar valor à sociedade, oferecendo soluções para problemas sociais e intentando garantir que todas as pessoas tenham uma qualidade de vida decente.

Assim como sugere Norman Fairclough (2001; 2003), considerou-se o discurso como uma prática social e, assim, foram analisadas as práticas textuais, discursivas e sociais dos estudantes investigados. Os discursos foram coletados por meio da realização de dois grupos focais. O critério para seleção dos estudantes foi o desempenho no projeto. A partir desse recorte, foram delineados os dois grupos (o de alto e o de baixo desempenho). Juntamente com a prática de grupos focais foram realizadas observações do processo de produção dos discursos, considerando os modos de linguagem verbal e não verbal.

Os discursos foram analisados em relação a experiência com o empreendedorismo social e as dificuldades vivenciadas. Os resultados apontam que há divergências entre os discursos de ambos os grupos de estudantes, sendo que o grupo com alto desempenho revela um discurso pautado na racionalidade substantiva, pautado na emoção, intensidade e se baseia em valores direcionados a um bem coletivo, e o grupo que obteve baixo desempenho se pauta na racionalidade instrumental, e na necessidade de se trabalhar por um retorno financeiro.

Ademais, evidenciou-se que as concepções discursivas externalizadas refletem a prática discursiva do empreendedorismo social, mas ao mesmo tempo demarcam o discurso gerencial hegemônico da Administração e sua lógica instrumental. Em síntese, cabe apontar que a hegemonia do discurso instrumental não se encontra em todos os grupos. Essa perspectiva demonstra o quão a prática discursiva está sujeita a remodelações a partir de experiências e contextos diferentes. Fato esse que corrobora com as críticas de vários autores em torno de uma mudança discursiva na formação do administrador.

FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Brasília: Editora da UnB, 2001. KEDMENEC, I.; REBERNIK, M.; TOMINC, P. Social Entrepreneurship Education and Its Association with Perceived Desirability and Feasibility of Social Entrepreneurship among Business Students. Croatian Journal of Education. v. 18, n. 4, p. 1035-1065, 2016. SHAHVERDI, M.; ISMAIL, K.; QURESHI, M. I. The effect of perceived barriers on social entrepreneurship intention in Malaysian universities: The moderating role of education. Management Science Letters. v. 8, n. 5, p. 341–352, 2018.