Resumo

Título do Artigo

DESENVOLVIMENTO? PARA QUEM? RELAÇÕES ESTRATÉGICAS ENTRE EMPRESA E SOCIEDADE: O LADO OBSCURO DA PRIVATIZAÇÃO DA COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL (CSN)
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Palavras Chave

Não-mercado
Neoliberalismo
Poder

Área

Estratégia em Organizações

Tema

Abordagens sociais, organizacionais, cognitivas e históricas em Estratégia

Autores

Nome
1 - Anádia Oliveira da Silva
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO DE JANEIRO (IFRJ) - Niterói - RJ
2 - MÁRCIO MOUTINHO ABDALLA
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF) - PPGA-MPA

Reumo

A CSN foi instalada em Volta Redonda em 1941, em um processo de transição de um país agroexportador para industrial, promessa de desenvolvimento e modernização. Entretanto, tal discurso escondia a opressão sofrida pela “família” siderúrgica. A década de 90 trazia consigo um novo discurso de desenvolvimento, mediante “necessidade” de privatizar empresas estatais, dentre elas a CSN. Para operacionalizar tal processo de privatização foram utilizadas estratégias sociais e de não-mercado que são expostas neste trabalho.
A presente pesquisa teve como objetivo analisar as relações estratégicas entre a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a sociedade de Volta Redonda/RJ no período de 1990 a 1993, época de privatização da empresa, com enfoque à redução dos movimentos populares, sociais e sindicais pós-privatização. A suposição que norteia este estudo é que a redução dos movimentos se deu pela utilização da privatização da CSN como estratégia política e ideológica do governo a época e que havia interesses por detrás da “modernidade” propagada.
Desenvolvimento e modernização são promessas, difundidas mediante discurso opressor de “necessidade” e única opção para a sociedade de Volta Redonda (RJ), desde 1941, ano de instalação da CSN na cidade (PALMEIRA, 2012). O ano de 1990 trazia consigo novos fenômenos como o processo de consolidação do projeto de globalização neoliberal, mantendo ativas as promessas de desenvolvimento e modernização (THEBALDI, 2015). Atrelada a prometida modernização estava a privatização da CSN, que foi planejada mediante diversas estratégias de não-mercado (BARON; DIERMEIR, 2007; DOH; MCGUIRE; OZAKI, 2015).
Os dados foram coletados a partir de pesquisa (1) documental, no arquivo da CSN, da Cúria Diocesana e documentos fornecidos por dois dos entrevistados; (2) entrevistas, com 10 atores importantes para o campo de pesquisa, atores de não-mercado (classe política, operária, sindical, igreja e movimentos sociais), com duração total de 14 horas 50 minutos e 08 segundos; e (3) observação participante. A análise dos dados foi inspirada nos procedimentos teórico-metodológicos da análise crítica do discurso de Norman Fairclough, a partir de uma vertente de prática social.
Dentre os principais achados do trabalho, pode-se observar, três ordens de discurso ressaltadas pelos entrevistados, ao se referirem as fases da CSN. Sendo inicialmente tida como CSN “mãe”, posteriormente como CSN “gargalo”, e por último como CSN privatizada. O processo de privatização da siderúrgica concentrou-se principalmente no discurso de CSN “gargalo”, ressaltando a utilização de estratégias sociais, soft power e hard power, com os atores de não-mercado da CSN, visando a naturalização da privatização e consequentemente redução das movimentações sociais.
Entre as principais contribuições do trabalho, ressalta-se a necessidade de repensar atitudes tomadas com vista ao cumprimento de um modelo imposto por países centrais, como as neoliberais, mantendo-se os ditames ocidentais, gerando grandes assimetrias sociais, e a necessidade de repensar o Estado mínimo. Esta pesquisa é importante porque analisou a influência das estratégias de privatização na redução dos movimentos que buscam dar voz, identidade e igualdade à sociedade, além de demonstrar a importância de se considerar os intervenientes de “não-mercado” ao estudar estratégia empresarial.
PALMEIRA, A.F. A Nova Face da “Cidade do Aço”: crise do capital, trabalho e hegemonia em Volta Redonda (1992-2008). Dissertação. Programa de Pós Graduação da Universidade Federal Fluminense. Niterói: UFF-RJ, 2012. THEBALDI, B. Estado de Violência Estatal: O Estado como Agente de Violência, no Contemporâneo. Razón y Palabra, v. 19, n. 89, 2015. DOH, J.; MCGUIRE, S.; OZAKI, T. The Journal of World Business Special Issue: Global governance and international nonmarket strategies: Introduction to the special issue. Journal of World Business, v. 50, n. 2, p. 256-261, 2015.