Resumo

Título do Artigo

A REPRESENTAÇÃO DO EU NA VIDA DIGITAL: A PERSPECTIVA DRAMATÚRGICA E A COMPREENSÃO DAS IDENTIDADES EM CENÁRIOS VIRTUAIS
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Palavras Chave

Identidade
Dramaturgia
Vida Digital

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Simbolismos, Culturas e Identidades Organizacionais

Autores

Nome
1 - Júlia Melo Macluf Biberg
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO (FGV-EAESP) - são paulo
2 - Maurício Donavan Rodrigues Paniza
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO (FGV-EAESP) - Curso de Doutorado em Administração de Empresas

Reumo

As bases colocadas por Mead (1934) para compreender a natureza social da formação dos eus são estendidas por Erving Goffman na sua proposta dramatúrgica de compreensão das relações humanas por meio do entendimento de como identidades são construídas e qual é a influência da sociedade nesse processo. Goffman (1974) evidenciou, por meio do exemplo de uma internação em um manicômio, que mesmo sob o diagnóstico de loucura, o internado tem sua identidade em contínua construção devido a interações sociais contextuais.
Este ensaio defende o argumento de que os ambientes virtuais de interação social, como as redes sociais e os aplicativos de relacionamento, tornaram-se um cenário implicado e co-extensivo da denominada vida “real”, permitindo a aplicação da abordagem dramatúrgica de Goffman (1985) para compreender as identidades e eus construídos e implicados nesses contextos. Portanto busca-se dialogar sobre como a característica social e interacional do ser humano é interpretada aos contextos organizados digitais (como redes sociais) em âmbito pessoal e profissional?
Para entender as interações sociais, Goffman utiliza como metáfora a representação teatral apresentando um framework sobre como interagimos em estabelecimentos sociais. Assim, são expostas as estratégias com que os indivíduos se apresentam e interagem com outras pessoas. As interações humanas ocorrem por meio da interpretação de papéis, contextualizados, com atores que buscam convencer uns aos outros de que o personagem que representam é crível. Nesse gerenciamento de impressões tenta-se guiar e controlar as impressões que os outros fazem de si, para obter informações a respeito dos outros.
Compreender a relação real-digital vai ao encontro do que afirmou Turkle (1999). A autora coloca que se comete um grave erro ao distinguir a vida off-line e on-line, tratando uma como real e a outra não. No contexto em que vivemos, onde as pessoas gastam tanta energia e tempo em plataformas digitais, acontece uma espécie de desejo em tornar mais fluida as fronteiras entre material e o virtual, sendo o on-line uma extensão do off-line (Turkle, 1999). Há que se considerar que a autora fez essa assertiva há quase 20 anos, o que coloca tal afirmação de forma ainda mais intensa atualmente.
Dois caminhos de pesquisa são pertinentes para compreender a construção das identidades virtuais em contextos organizados. O primeiro caminho seria compreender a dramaturgia dos sujeitos em diversos cenários digitais, confrontando o eu profissional em uma rede como o LinkedIn e o eu mais íntimo de uma rede mais pessoal como Facebook. Como segundo caminho de pesquisa, parece interessante compreender a dramaturgia dos grupos em comunidades virtuais. Neste escopo, podem ser realizados estudos relacionados às identidades profissionais e como elas são performadas e acreditadas no contexto digital.
Goffman, E. (1974). Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: ed. Perspectiva. Goffman, E. (1985). A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: ed. Vozes. Kozinets, R. V. (2014). Netnografia: realizando pesquisa etnográfica online. São Paulo: ed. Penso. Markham, A. (2013). The dramaturgy of digital experience. In C. Edgley (ed). The drama of social life: a dramaturgical handbook, Ashgate Publishing. Mead, G. H. (1934). Mind, self and society. University of Chicago Press.