Resumo

No Brasil, 13,7% dos graduados são das áreas de Ciências Exatas. Entre estes, 31,1% são mulheres. Assim, pode-se entender a razão pela qual a área de tecnologia é, tradicionalmente, masculina. Logo, pode-se supor que homens sejam maioria nas deliberações sobre contratação e carreira de mulheres. Um levantamento da literatura nacional aponta carência de estudos sobre barreiras profissionais enfrentadas pelas mulheres, na ótica de gestores homens, apontando um aspecto inovador na literatura.

Diante da lacuna encontrada, propõe-se o problema de pesquisa: Os homens executivos e tomadores de decisão, que atuam em uma empresa de tecnologia, percebem a existência de barreiras profissionais para as mulheres ascenderem nesta área? O objetivo do artigo, portanto, é identificar possíveis barreiras para a mulher atingir uma função executiva na área técnica, na perspectiva de diretores e gerentes de uma empresa de tecnologia

As crenças culturais (homens são melhores em matemática do que as mulheres) podem explicar, parcialmente, o ambiente masculino em tecnologia (CORRELL, 2001). Uma preocupação do movimento feminista é o acesso limitado das mulheres às instituições e profissões técnicas e científicas (WAJCMAN, 2007). Para a teoria da congruência de papéis (EAGLY; KARAU, 2002), as características femininas não são desejadas para o papel de líder e habilidades de liderança estão associadas ao estereótipo masculino.

A pesquisa foi qualitativa, realizada por meio de oito entrevistas semiestruturadas com homens executivos (gerentes e diretores) da área técnica de uma multinacional de grande porte, no segmento de tecnologia. A escolha dos sujeitos levou em consideração a sua experiência com mulheres executivas da área técnica, como pares ou subordinadas. Os dados foram analisados por um processo de categorização temática baseado nos procedimentos definidos por Creswell (2010).

Os resultados foram estruturados em torno de quatro categorias construídas a partir dos dados: Formação e Educação, Percepção de Barreiras, Valorização da Mulher e Aspectos Institucionais. Foi identificada a dificuldade de os homens executivos perceberem e relatarem barreiras enfrentadas pelas mulheres para ascender profissionalmente na área técnica, impostas ou oriundas de discriminação. Mas eles reconhecem algumas barreiras intrínsecas construídas pelas próprias mulheres.

Os resultados da pesquisa dão pistas relevantes para avançar o conhecimento sobre carreira de mulheres executivas na área de tecnologia, cujo ambiente é predominantemente masculino. Se esses homens constituem a maioria, com poder de decisão, e não percebem as barreiras oriundas do ambiente organizacional, mas percebem as barreiras construídas pelas mulheres, esse fator impõe um ônus maior sobre as mulheres e minimiza o papel do comportamento organizacional frente a esse fenômeno.

CORRELL, S. J. Gender and the Career Choice Process: The Role of Biased Self-Assessments. American Journal of Sociology, v. 106, n. 6, p. 1691–1730, 2001. CRESWELL, John W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. EAGLY, A. H.; KARAU, S. J. Role congruity theory of prejudice toward female leaders. Psychological Review, v. 109, n. 3, p. 573–598, 2002.