Resumo

A conciliação entre o trabalho e a família é uma das principais questões da sociedade ocidental contemporânea, diante de um cenário de profundas transformações tanto no mundo do trabalho (precarização e informatização) quanto na instituição familiar (aumento da escolaridade e maior heterogeneidade de estruturas familiares) (Poeschl, 2010). Uma melhor integração entre os papéis requer a resolução dos conflitos e a obtenção de ganhos, por meio da utilização de estratégias individuais e coletivas.

No presente estudo são apresentados e analisados conceitos presentes na literatura recente, para situar a questão do equilíbrio e conflito trabalho-família na discussão das possibilidades de reorganizar essas relações, considerando os papéis do Estado, das instituições e dos próprios trabalhadores na tarefa desafiadora da conciliação.

Os teóricos que estudam a relação entre trabalho e família abordam: (a) identificação dos conflitos, (b) descrição dos ganhos, e (c) avaliação dos efeitos de diferentes estratégias para integrar estes envolvimentos (Barham & Vanalli, 2012). Existem três modelos baseados na perspectiva do conflito: segmentação, compensação e spillover, mas a partir da valorização dos efeitos de assumir papéis múltiplos sobre o desenvolvimento adulto, surge o conceito de equilíbrio (Matias & Fontaine, 2012).

A pesquisa bibliográfica foi realizada nos portais eletrônicos Scielo e Lilacs entre abril e junho de 2016, utilizando os descritores “equilíbrio trabalho família” e “conflito trabalho família”. Do total de 178 artigos encontrados inicialmente, os 23 selecionados abordaram: a) conceitos sobre trabalho e família, b) efeitos pessoais e familiares, c) efeitos no trabalho, d) avaliação e e) estratégias e políticas de conciliação entre o trabalho e a família.

Observou-se que: a) as teorias atuais unem aspectos positivos e negativos da interface trabalho-família; b) a redução de conflitos trabalho-família traz benefícios para o bem-estar; c) trabalhadores que relatem menos conflitos apresentam maior comprometimento e satisfação no trabalho; d) há dois instrumentos para avaliar a relação trabalho-família, validados para o Brasil; e) estratégias individuais, familiares e organizacionais contribuem para melhorar a integração entre estes dois papéis.

A despeito dos avanços, a continuidade de crenças culturais que identificam a mulher com o lar e o homem com o trabalho remunerado ainda ocasionam desigualdades na vida profissional e familiar. Em investigações futuras, recomenda-se a realização de trabalhos em contextos de vulnerabilidade social, visando aumentar a abrangência de acesso às estratégias que permitem melhorar o equilíbrio entre o trabalho assalariado e familiar.

Barham, E.J. & Vanalli, A.C.G. (2012). Trabalho e família: perspectivas teóricas e desafios atuais. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 12(1), 47-60. Matias, M. & Fontaine, A.M. (2012). A conciliação de papéis profissionais e familiares: o mecanismo psicológico do Spillover. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 28 (2), 235-243. Poeschl, G. (2010). Desigualdades na divisão do trabalho familiar, sentimento de justiça e processos de comparação social. Análise Psicológica, 1(28), 29-42.