Resumo

Estudos sobre a estratégia como prática evidenciam que a estratégia não é um elemento exclusivo das organizações, mas também se constitui como uma atividade praticada pelas pessoas, podendo ser considerada como uma prática social. Desse modo, tal vertente concebe a estratégia como algo que as pessoas fazem, sendo vista como uma atividade contínua, centrada nas micro-atividades que compreendem a construção da estratégia. A estratégia e a prática, portanto, caminhariam juntas (WHITTINGTON, 1996).

Este trabalho teve como objetivo compreender as práticas cotidianas do homem comum em seus negócios ordinários, sendo os sujeitos foco desta pesquisa os negociantes rurais do interior do Estado de Minas Gerais, mais especificamente aqueles da região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, também conhecidos como catireiros. Nosso intuito foi o de fugir dos parâmetros gerencialistas dominantes para poder desvelar as muitas maneiras de fazer catira no cotidiano desses gestores ordinários.

Certeau (1994; 1998) infere que é através das artes de fazer que os sujeitos (re)inventam seu cotidiano, e em suas obras o autor narra algumas práticas cotidianas, as quais, além de compreenderem as artes de fazer dos sujeitos, constituem as estratégias e táticas utilizadas pelos mesmos. Assim, algumas dessas práticas (estratégias) lidam com a estrutura no sentido de mantê-las e legitimá-las; mas há também práticas (táticas) que atuam no sentido de subverter os próprios componentes da estrutura.

A fim de atingir os objetivos propostos, utilizamos da abordagem da pesquisa qualitativa, de caráter exploratório. A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas semi-estruturadas com 31 catireiros da região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, que foram encontrados através da técnica da bola de neve. Os áudios das entrevistas foram gravados e, posteriormente, transcritos, formando o corpus da pesquisa. Para a análise dos dados, utilizamos da Análise Crítica do Discurso (ACD).

As estratégias na catira estão relacionadas com o conhecimento sobre o mercado rural, sobre as melhores épocas para se catirar, de entender as diversas peças-chave que fazem girar a engrenagem da catira. Já as táticas são aquelas operações circunstanciais e situacionais para tirar vantagem ou para não ter prejuízo nas negociações. São improvisações que dependem da astúcia do catireiro em perceber as oportunidades para se catirar, já que a prática da catira também pode ser considerada como tática

As práticas cotidianas de negócio da catira são múltiplas e diversas entre os catireiros da região estudada. Apesar de eles ainda suavizarem a importância de suas práticas cotidianas na gestão de seus negócios, eles exprimem a relevância de tais práticas na forma de verbos, como o andar, procurar, perguntar, negociar, argumentar, mostrar, conhecer, especular, saber, pechinchar, etc. Ademais, eles demonstram também que a catira exige que se tenha um aprendizado contínuo sobre essas práticas

CERTEAU, M. A invenção do cotidiano: artes do fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. CERTEAU, M. A invenção do cotidiano 2: morar, cozinhar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. JARZABKOWSKI, P.; SEIDL, D. The role of meetings in the social practice of strategy. Organization Studies, Berlin, v. 29, n. 11, p. 1391-1426, 2008. WHITTINGTON, R. Strategy as Practice. Long Range Planning, v. 29, n. 5, p. 731-735, 1996.