Resumo

Em um contexto em que a sociedade se encontra imersa em conjunturas simbólicas que são resultantes da construção dos significados sociais e culturais, o consumo torna-se parte desse processo. Esse estudo parte de algumas reflexões teóricas correlatas ao consumo de beleza, transpassando os significados imbricados nas questões de gênero, em que a diversidade cultural, de orientação sexual, de comportamento e de identidade oferecem novas possibilidades de análise e de estudo.

Com a finalidade de elucidar como as representações simbólicas e culturais imersas na esfera do consumo de beleza influenciam a percepção de gênero e a formação e legitimação da identidade da mulher homossexual, esse estudo busca lançar luz acerca do entendimento, no que tange a perspectiva simbólica presente no consumo, das construções sociais que influenciam as representações constitutivas da identidade da mulher homossexual legitimadas por seu discurso.

Partindo de uma discussão ampla sobre o consumo e seus aspectos simbólicos, tendo por base autores como Baudrillard, Campbell, Douglas e Isherwood e Shalins, traçou-se como essa dimensão imaterial dos bens e serviços é conjugada com a cultura para traçar caminhos identitários, significar gêneros, demonstrar sexualidade e comunicar beleza.

Foram realizadas entrevistas em profundidade com 15 mulheres homossexuais consumidoras de produtos de beleza e residentes em Belo Horizonte e região metropolitana. A partir da transcrição dessas entrevistas, realizou-se uma análise do discurso de linha pêchetiana para compreender o modo como as representações simbólicas e sociais, a partir do consumo de beleza, influenciam a coordenação das relações, os hábitos e a formação da identidade dessas mulheres

Algumas categorias de interesse surgiram da fala dessas mulheres, as quais foram reunidas em três grandes temas. Percebeu-se que o fato de serem homossexuais não as isentava de buscarem corresponder a algum tipo de ideal de beleza, geralmente referenciado primeiramente na mãe ou nas irmãs e, na ausência dessas imagens, em amigas próximas e, por último, em padrões midiáticos. A autoimagem mostrou-se um fator de grande relevância para mostrar como elas se aderem aos padrões estabelecidos e deles se distanciam, provocando um jogo de identidade fluida e mascarada.

Quando a imagem projetada pelas mulheres diverge do modelo social de beleza, julgamentos de outros apontam desleixo e lassidão. Esses estigmas culminam em discriminação e preconceitos, impedindo que a própria identidade seja assumida. As mulheres homossexuais, portanto, silenciam ou negam a sua beleza para não sofrerem esses julgamentos.

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