Resumo

O desligamento de pessoal pode ser tido como um dos aspectos mais taciturnos que envolvem a gestão de pessoas, o que demanda a necessidade de maiores reflexões e avaliações por parte da academia e das organizações, uma vez que pensar no setor de recursos humanos como agente de gestão de pessoas implica em se ocupar com a humanização do trabalho, do recrutamento ao desligamento dos trabalhadores. O desligamento de pessoal gera impactos deletérios no indivíduo demitido, arruinando as expectativas de realização através do trabalho e obstruindo projetos de vida.

Sob uma perspectiva crítica de análise, e no intento de denunciar a carência de humanização nos processos demissionais e elucidar o fato de que os efeitos do desligamento geram complicações profundas na vida do trabalhador este estudo questiona: quais os impactos que o processo de desligamento de pessoas gera nas tentativas de recolocação profissional do trabalhador? E, para responder a esse questionamento, o estudo estabelece como objetivo analisar as sequelas geradas pela demissão e investigar de que forma elas impactaram nas tentativas de recolocação profissional do trabalhador.

A fundamentação teórica do estudo revisita três temáticas centrais, quais sejam: os aspectos que perpassam a gestão de pessoas (CALDAS, 2000; DOS SANTOS; FRANCO, 2018; LACOMBE; TONELLI, 2001; PENA; GUIMARÃES; SOUZA, 2020; TRENTIN, 2021); o processo de desligamento e suas consequências para o indivíduo (COLLINS, 2020; DE OLIVEIRA et al., 2020; PLIOPAS; TONELLI, 2007; SELIGMANN-SILVA, 1994;) e a recolocação profissional (SOUZA; VIEIRA, 2020; FERRETTI; GONÇALVES, 2016; LIMA et al. 2019).

A pesquisa adota abordagem qualitativa com natureza descritiva exploratória. Os dados foram coletados por meio de entrevistas, utilizando-se de roteiro semiestruturado. Foram realizadas treze entrevistas com pessoas que passaram por processo de desligamento involuntário entre os anos de 2021 e 2022. A seleção dos participantes deu-se por meio da técnica bola de neve. A análise dos relatos foi realizada sob a égide da Análise de Discurso Crítica de Fairclough (1999) onde o processo de codificação dos discursos fomentou a identificação de categorias linguísticas de análise.

As análises permitiram identificar os agravos sociais, familiares, emocionais e psicológicos que processo demissional gera naqueles que o enfrenta. Os discursos evidenciam a culpabilização social que é imposta sobre o sujeito, responsabilizando-o por não conseguir se manter no emprego. Os sentimentos de medo, insegurança e ansiedade são relatados como comuns àqueles que buscam a reinserção no mercado de trabalho. Discursivamente, vigora um sentimento de preconceito e desvalorização do trabalhador, implicando na necessidade de um repensar das organizações sobre seus processos de desligamento.

Ratifica-se as inferências acerca da importância do envolvimento das empresas na transição involuntária de carreira de seus demitidos, como forma de redenção pela extensão das angústias geradas pela demissão. Os processos de desligamento não são contemplados nas políticas organizacionais deixando uma lacuna no que ser refere à humanização nos processos de gestão. O amparo ao demitido pode cumprir a responsabilidade social das organizações.

CALEIRAS, J.; CARMO, R. M. O regresso do desemprego massivo? Lisboa: Estudos CoLABOR, N.º 1, 2020. COLLINS, H. An emerging human right to protection against unjustified dismissal. Industrial Law Journal, v. 50, n. 1, p. 36-69, 2021. FAIRCLOUGH, N. Analysing Discourse: textual analysis for social research. London: Routledge, 2003. DE FREITAS, M. E. Por uma ética na demissão?. Revista de Administração de Empresas, v. 46, p. 102-106, 2006.