Resumo

O Brasil enfrenta um grave problema de consumo exacerbado e descarte inapropriado de medicamentos. Além dos danos diretos à saúde, o descarte indevido de medicamentos pode gerar prejuízos ao meio ambiente, gerando consequências nocivas para toda sociedade. Apesar de alguns esforços governamentais, visando o regramento para a logística reversa de medicamentos, pouco se tem feito, pois falta orientações e fiscalizações. Contudo, algumas ações isoladas de instituições de saúde buscam mitigar esse cenário, com iniciativas pioneiras na coleta de medicamentos (PRIMO et al., 2014; AURÉLIO, 2015).

Diante do contexto do uso medicamentos e seu descarte inapropriado, e a escassez de estudos que discutam sobre o tema da logística reversa de medicamentos, em especial no caso de hospitais (RIBEIRO et al., 2021), o objetivo desta pesquisa é o de descrever um projeto para a operacionalização da Logística Reversa de medicamentos de uso domiciliar executado em um hospital público, localizado na cidade do Rio de Janeiro.

O trabalho está alicerçado em três pilares teóricos: Logística Reversa, Logística Reversa aplicada ao contexto hospitalar e o Descarte de Medicamentos. A Logística Reversa auxiliou à pesquisa na construção de mecanismos de comunicação e recolhimento de medicamentos, para o seu descarte ou reaproveitamento (DOWLATSHAHI, 2000; SRIVASTAVA, 2012; WAQAS et al., 2017; CHAVES et al., 2019; ABDISSA et al. 2022; MOLANO, et al. 2022). Já o amparo da Logística Reversa no ambiente hospitalar e o descarte de medicamentos, suportou acerca da legislação pertinente e ações possíveis (RIBEIRO et al., 2021).

Este trabalho utilizou como método de pesquisa um estudo caso único (GHAURI, 2004; EISENHARDT; GRAEBNER, 2007; YIN, 2015), cujas fontes de evidências foram a análise de documentos e observação participante de um dos autores, que atua como farmacêutica responsável pelo inventário de medicamentos do hospital alvo do estudo. Além disso, assevera-se que a pesquisa se adequa ao tipo descritiva, com a finalidade de explorar as ações para descarte de medicamentos empreendidos pelo hospital alvo do estudo.

O projeto descrito no estudo de caso foi instituído com dois objetivos: a) operacionalizar o recebimento e o direcionamento de medicamentos para outros pacientes, uma vez que o setor público, por diversas vezes, sofre com falta de insumos e escassez de recursos; b) reduzir os impactos gerados pelo descarte incorreto de produtos químicos e materiais perfurocortantes no lixo comum, causados pelos itens dispensados pela Farmácia Ambulatorial. O número total de participantes do projeto, somando-se todas as fases, foi de 5.179.

O estudo focou em uma ação para o descarte de medicamentos, contudo, afirma-se que existem diversas alternativas para promover o recolhimento de medicamentos vencidos ou em desuso, visando impedir o descarte no meio ambiente. Todavia, o maior desafio está na sua implementação e continuidade. Além disso, é necessário nutrir as pessoas de informação sobre o tema, esforço governamental para incentivar a criação de programas de recolhimento e conceder incentivos fiscais aos envolvidos no ciclo de vida dos insumos para aderirem a essas ações.

ABDISSA, et al. Role of Reverse Logistics Activities in the Recycling of Used Plastic Bottled Water Waste Management. Sustainability, v. 14, n. 13, p. 7650, 2022. EISENHARDT, K. M.; GRAEBNER, M. E. Theory building from cases: opportunities and challenges. AMJ. 2007. PRIMO, et al. Gerenciamento de medicamentos em desuso devolvidos por pacientes ambulatoriais de um hospital universitário. Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada. Vol. 35, n. 2, p. 263-8, 2014. RIBEIRO, et al. Evaluation of medicine reverse logistics practices in hospitals. Sustainability, v. 13, n. 6, p. 3496, 2021.