Resumo

A profissão contábil vem passando ao longo dos anos por diversas transformações derivadas do avanço das tecnologias digitais. Compreender como usar dados para formular e resolver problemas de negócios oferece uma oportunidade para o profissional de contabilidade se tornar um colaborador estratégico com visão de futuro na organização. Com isso, os cursos de graduação enfrentam a responsabilidade de formatar seus conteúdos de forma a capacitar os alunos para este novo desafio do mercado de trabalho.

O problema de pesquisa que norteia este estudo é: como a matriz curricular das instituições brasileiras de ensino superior de Ciências Contábeis está preparada para formar os estudantes diante da nova realidade tecnológica exigida na profissão? Para responder este questionamento, o objetivo deste trabalho é analisar como a matriz curricular das 100 instituições de ensino superior de Ciências Contábeis, que tiveram melhor avaliação do Ministério da Educação (MEC) no Conceito Preliminar de Curso (CPC), está estruturada a fim de atender as demandas de tecnologia requisitadas pela profissão.

Oliveira e Malinowski (2017) apontam que a profissão contábil vem sofrendo grandes transformações. Coyne, Coyne e Walker (2016) alertam para a necessidade de mudança nos currículos de contabilidade para atender tecnologias de ponta e demanda de serviços de informações de forma a preparar melhor os contadores para atuarem frente ao novo desafio. Os autores apontam ainda que um dos obstáculos enfrentados é a desconexão entre o ensino e a prática. Santos (2019) argumenta que para reduzir esta lacuna entre teoria e prática é necessário discutir a abordagem atual do ensino de ciências contábeis.

A abordagem da pesquisa deste estudo é a quantitativa e de acordo com os objetivos, a pesquisa classifica-se como descritiva (Raupp & Beuren, 2006), pois se concentra no registro, análise e interpretação de informações da grade curricular de uma amostra constituída pelas 100 instituições brasileiras de ensino superior de Ciências Contábeis que tiveram a melhor pontuação na avaliação CPC (2018). Quanto à análise dos dados, utilizou-se da estatística descritiva, bem como da análise de conteúdo, na sua vertente quantitativa, realizada por meio do software NVivo.

Na média, as disciplinas de tecnologia ocupam apenas 2,5% da carga horária total necessária para a conclusão do curso de Ciências Contábeis. A região Sudeste apresentou o maior percentual (3,1%), enquanto a região Norte apresentou o menor (1,9%). A maior parte das instituições apresenta apenas a disciplina Sistemas de Informação. Algumas instituições não apresentam nenhuma disciplina que sugere alinhamento com o tema, por outro lado, existem instituições no estado de São Paulo com disciplinas em temas emergentes das tecnologias digitais, cuja carga horária supera 10% do total exigido do curso.

Embora seja de amplo conhecimento que a profissão contábil esteja passando por diversas mudanças, a aderência das grades curriculares dos cursos de ciências contábeis em relação a nova realidade da transformação digital ainda é muito baixa de maneira geral. A maioria das instituições de ensino superior brasileiras precisa repensar o currículo do curso de forma a capacitar os alunos para enfrentarem os desafios atuais do mercado de trabalho. Isso inclusive pode ser um diferencial para a instituição visto que muitos alunos se mostram motivados a aprofundarem seus conhecimentos nesta área.

Coyne, J. G., Coyne, E. M., & Walker, K. B. (2016). A model to update accounting curricula for emerging technologies. Journal of Emerging Technologies in Accounting, 13(1), 161-169. Oliveira, D. B., & Malinowski, C. E. (2017). A importância da tecnologia da informação na contabilidade gerencial. Revista de Administração, 14(25), 3-22. Pan, G., & Seow, P. S. (2016). Preparing accounting graduates for digital revolution: A critical review of information technology competencies and skills development. Journal of Education for Business, 91(3), 166-175.