Resumo

O setor do agronegócio representa um dos principais setores econômico a nível mundial, e um dos mais relevantes no Brasil. Recentemente esse setor tem sido alvo de discussões acerca dos riscos ambientais e sociais em diversas de suas cadeias de suprimentos. Os riscos envolvem, muitas vezes, fornecedores que estão no início da cadeia, ligados a ações de desmatamento de áreas tropicais e de uso mão de obra análoga à escrava. No entanto, esses fornecedores são numerosos, possuem menor capacidade de recursos para responder por questões sustentáveis.

De acordo Wilhelm et al. (2016), na cadeia do agronegócio, particularmente como as de commodities (milho, carne, et.), a aplicação dos mecanismos de governança para mitigar o risco de sustentabilidade falham por motivos em relação a preocupação por qualidade, custo e prazo de entrega, enquanto que as questões por sustentabilidade são deixadas para segundo plano. Portanto, esta pesquisa busca investigar como os mecanismos de governança podem responder às pressões por sustentabilidade social e ambiental, desenvolvendo compliance entre empresa focal, fornecedores de primeiro e segundo nível.

A teoria institucional tem sido utilizada na gestão de cadeias de suprimentos (CS) para avaliar o nível de compliance da empresa com relação aos requisitos internos e externos à cadeia (DiMaggio e Powell, 1983; Sarkis et al., 2011; Touboulic e Walker, 2015). A teoria da contingência tem sido utilizada frequentemente na literatura acerca da gestão de operações sustentáveis (Li et al., 2010; Tachizawa e Wong, 2014; Wilhelm et al., 2016). Os mecanismos de governança e controle são formas de controle entre empresas e fornecedores para gerenciar o relacionamento interorganizacional.

Este estudo consiste em uma pesquisa exploratória e qualitativa para investigar como os mecanismos de governança podem responder às pressões por sustentabilidade social e ambiental, desenvolvendo compliance entre empresa focal, fornecedores de primeiro e segundo nível em cadeias agroindustriais. Para explorar o fenômeno desta pesquisa, duas cadeias agroindustriais apresentam características pertinentes: a cadeia de carne bovina e a cadeia do chocolate. Ambas vivenciam riscos ambientais e sociais com fornecedores que estão no início da cadeia, ou seja, pecuaristas na carne bovina, e o cacau.

Os resultados apresentam inter-relacionamento propostos entre os elos da cadeia a montante, com as pressões institucionais, variáveis contingenciais e os mecanismos de governança. Se por um lado, as variáveis poder, conscientização e pressões coercitivas incentivam os agentes a não-compliance na cadeia, por outro lado a cooperação, certificações, contratos e ONGs, são mecanismos que incentivam o desenvolvimento de compliance na mitigação dos riscos ambientais e sociais.

Esse artigo oferece uma perspectiva exploratória mais ampla de duas cadeias agroindustriais no Brasil que possuem o risco em fornecedores de níveis inferiores. A análise de diferentes perspectivas entre EF, fornecedores de primeiro e segundo nível, ONGs e especialistas, demonstrou a interdependência entre os atores na tentativa de estabelecer compliance em cadeias de países em desenvolvimento. Um achado relevante é a situação de relação de poder em favor de F1, diferentemente do que a literatura recente apresentava (ou seja, o poder em favor da EF).

Mena, Carlos, Andrew Humphries, e Thomas Y. Choi. 2013. “Toward a Theory of Multi-Tier Supply Chain Management.” Journal of Supply Chain Management 49 (2): 58–77. Tachizawa, Elcio M. e Chee Yew Wong. 2014. “Towards a Theory of Multi-Tier Sustainable Supply Chains: A Systematic Literature Review.” Supply Chain Management 19: 643–653.. Wilhelm, Miriam M. Constantin Blome, Vikram Bhakoo, e Antony Paulraj. 2016. “Sustainability in Multi-Tier Supply Chains: Understanding the Double Agency Role of the First-Tier Supplier.” Journal of Operations Management 41. Elsevier Ltd: 42–60..Williamson, Oliver