Resumo

A pandemia da Covid-19 gerou fortes impactos em todas as esferas da sociedade, com mudanças que serão plenamente entendidas apenas daqui a muitos anos. Nos mercados financeiros, não foi diferente: somente no mês de março de 2020, o Ibovespa registrou uma queda de 29.9%, a pior marca mensal desde quando da Crise da Rússia, em 1998; além disso, nesse mesmo mês, a B3 registrou um total de seis circuit breakers. Assim, uma análise do desempenho dos fundos de investimento em ações brasileiros nesse contexto é de suma importância para entender as reverberações da crise nessa indústria.

O objetivo da pesquisa é estudar como os fundos de investimento em ações brasileiros se comportaram durante o período da Covid-19. Para isso, são realizadas análises relacionadas a medidas de retorno, risco e retorno ajustado ao risco. Além disso, os fluxos de investimento (resgate e captação) são estudados. Por fim, busca-se entender quais características dos fundos colaboram para explicar medidas de desempenho do período de crash.

Pastor e Vorsatz (2020) analisam as medidas de desempenho e fluxos de capital para os fundos de investimento em ações americanos; eles encontram que no período da Covid-19 a maior parte dos fundos de investimento tem um desempenho inferior ao índice de mercado. Para a análise do desempenho no presente artigo, é utilizado o modelo multifatorial desenvolvido por Carhart (1997); o Índice de Sharpe; Value at Risk (VaR); Conditional Value at Risk (CVaR), entre outras.

Para a construção da amostra de fundos de investimento são aplicadas duas restrições: (i) são eliminados da amostra todos aqueles fundos que possuíam um patrimônio líquido inferior a R$5.000.000,00 no dia 03/10/2019; (ii) é necessário que o fundo exista tanto na base da Economática quanto na base da Anbima. Após essas restrições, temos 1420 fundos elegíveis divididos entre as classes Ação Livre, Dividendos, Sustentabilidade e Governança, Valor e Crescimento e Índice Ativo. Nossa amostra compreende o período entre 02/10/2019 e 30/04/2020.

Os principais resultados mostraram que durante o período de crash (19/02/2020 a 23/03/2020) todas as categorias de fundos obtiveram mais de 50% dos fundos com retorno superior ao IBRX100. No entanto, no período de recuperação (24/03/2020 a 30/04/2020) a porcentagem de fundos que superam o índice diminui significativamente, tendo os fundos da categoria livres se destacado com maior porcentagem de fundos que superaram o índice (34.3%). No entanto, quando o desempenho é analisado sob a óptica de modelos multifatoriais de risco, não é possível identificar geração de alfa (retornos anormais).

Observou-se que os fundos foram capazes de gerar retornos acima do índice de mercado no período de crash, tendo a categoria livres se destacado, no período de recuperação e na geração de alfa (retorno anormal). Além disso, ao examinar-se os fluxos de investimento, pode-se perceber que não houve um fenômeno de “corrida” para realizar o resgate da cota. Na realidade, durante quase todo o período analisado, as captações excederam os resgates. Isso pode indicar que o investidor cotista de fundos está mais educado financeiramente e que agiu com mais cautela ao aguardar um momento menos turbulento.

PASTOR, L.; VORSATZ, M. B. Mutual fund performance and flows during the covid-19 ´ crisis. The Review of Asset Pricing Studies, Oxford University Press, v. 10, n. 4, p. 791–833, 2020. CARHART, M. M. On persistence in mutual fund performance. The Journal of finance, Wiley Online Library, v. 52, n. 1, p. 57–82, 1997. ZHANG, D.; HU, M.; JI, Q. Financial markets under the global pandemic of covid-19. Finance Research Letters, Elsevier, v. 36, p. 101528, 2020.