Resumo

A mulher é uma figura de extrema importância para o desenvolvimento e crescimento da sociedade. Apesar disso, existem fatores de limitação, estigmatização e desvalorização do seu papel. No que tange o mundo do trabalho, é possível notar assimetrias na forma em que homens e mulheres encontram possibilidade de inserção e desenvolvimento. Nesse cenário, questionamentos relacionados à forma de legitimação feminina e ascensão no ambiente corporativo surgem e, para isso, é necessário entender as micropolíticas utilizadas por elas, a fim de elaborar possibilidades de mudanças.

Por conta do histórico machismo e patriarcado na sociedade, existem fatores limitadores que mulheres enfrentam para se inserir e se desenvolver em várias áreas sociais, inclusive no trabalho. Nesse contexto, superam dificuldades para ascender em cargos estratégicos de liderança e se legitimarem em organizações. Com este trabalho, espera-se refletir e compreender o percurso e as estratégias utilizadas pelas lideranças femininas em sua ascensão, visibilidade e legitimidade nas organizações de trabalho.

Perspectivas naturalistas contribuem para a reprodução da ideologia de gênero, bem como para o sexismo. Entendemos aqui que feminilidade e masculinidade são possibilidades de existência aos sujeitos nos contextos que se inserem, e características consideradas “femininas” são estratégias criadas por mulheres para alcançar seus objetivos e metas. Essas estratégias possuem familiaridade com a liderança democrática e transformacional, e valorizam a participação da equipe, a comunicação e a empatia, gerando à mulher possibilidades de legitimidade e visibilidade enquanto lideranças na atualidade.

A abordagem utilizada neste trabalho é de natureza crítica. Devido à variedade de interpretações acerca dos conceitos definidos como objetos desta pesquisa, fez-se necessário trabalhar com uma abordagem qualitativa de pesquisa. Para o alcance dos objetivos descritos no trabalho, foram realizadas entrevistas semiestruturadas e análise de conteúdo com seis mulheres em cargos de liderança em diferentes empresas, a fim de se conhecer sua trajetória pessoal e profissional, compreender sua visão sobre a liderança, e suas estratégias para ascenderem na organização e serem legitimadas como líderes.

Infere-se, pois, que a liderança feminina é caracterizada não por características naturais, mas sim por estratégias que as mulheres desenvolvem para crescerem na organização em que atuam, chegando a cargos de liderança. Muito embora o discurso sobre os atributos da liderança tenda a ser generalizável, nota-se que há maior esforço, por parte das mulheres, para objetivarem e expressarem tais atributos em seu dia a dia, por conta das representações e estereotipias que são inerentes à dinâmica das organizações, especialmente as mais conservadoras.

Ao pensar que a mulher pode ser representada por múltiplas formas de ser ao atuar em algum cargo, conclui-se que não é sua personalidade ou suas características que definem e delimitam um estilo de liderança feminina, mas sim os seus métodos e habilidades que fazem com que essa liderança obtenha êxito. Essa temática deve ser levada em consideração para que o estigma não seja propagado ao relacionar as características da mulher com um tipo de liderança.

BENDASSOLLI, Pedro F.; MAGALHÃES, Mauro de Oliveira; MALVEZZI, Sigmar. Liderança nas organizações. In ZANELLI, J. C; BORGES-ANDRADE, J. E; BASTOS, AB. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. 2ª. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. p. 413-449. KANAN, L. A.Poder e liderança de mulheres nas organizações de trabalho. Organizações & Sociedade, v. 17, n. 53, art. 1, p. 243-257, 2010. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 6ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. SAFFIOTI, Heleieth. Gênero, Patriarcado e Violência. Fundação Perseu Abramo: SP, 2011.