Resumo

Diante das transformações vivenciadas no mundo do trabalho e nas relações laborais, impulsionadas pelo avanço da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e pelo aumento exponencial das plataformas digitais/aplicativos e de trabalhadores sob demanda, é imperativa uma reflexão sobre as relações de poder que são estabelecidas neste meio. Partindo do aporte teórico e dos modelos propostos por French e Raven foi sugerido um modelo de análise de poder e influência sobre a relação entre as plataformas e os trabalhadores, relacionando as bases de poder e as estratégias para exercer o controle.

Diante das assimetrias das relações de poder entre usuários (trabalhadores) de plataformas digitais e as organizações que as operam, é imperativo uma reflexão sobre um modelo que relacione as bases de poder e o controle exercido por estas organizações. Nesse sentido, o objetivo deste estudo teórico é propor um modelo que relacione as bases de poder e as estratégias de controle aplicadas nesta relação assimétrica.

Busca-se lançar as bases teóricas em defesa do seguinte argumento: por meio de uma gestão algorítmica, as plataformas e aplicativos exercem poder/influência sobre os trabalhadores, o que resulta num efeito de desequilíbrio, proporcionando poder/influência às grandes corporações e um trabalha precário aos usuários. A discussão desenvolvida neste estudo apoia-se essencialmente em uma pesquisa bibliográfica de estudos sobre as bases de poder de French e Raven (1959) e Raven (1992), o modelo de poder/interação de influência interpessoal de Raven (1990) e a atual gestão algorítmica (OIT, 2019).

É possível refletir a partir das assimetrias abordadas como se trata de uma relação de poder desequilibrada e desproporcional, sem regras claras, sem uma comunicação efetiva, que possa auxiliar na resolução de conflitos e até mesmo, sem benefícios e remunerações justas. Através da análise dessas estratégias e das seis bases estabelecidas por French e Raven (1959) e Raven (1992), é possível identificar o uso do poder de quatro delas pelo agente influenciador (aplicativos), poder: informação, legítimo, coercitivo e recompensa.

O uso dessas estratégias de poder resulta num desequilíbrio entre os atores envolvidos, ressaltando as assimetrias e os seus reflexos no contexto organizacional. Enquanto de um lado, essas estratégias fortalecem a autoridade das organizações que representam as plataformas digitais, por outro, tornas os trabalhadores invisíveis, sendo submetidos a aceitar todos os termos de uso do software para desempenhar suas atividades e ainda tendo seus comportamentos regulados e gerenciados, submetidos a indicadores e avaliações unilaterais.

FRENCH JR, J. R. P.; RAVEN, B. H. The bases of social power. In: CARTWRIGHT, D. (Ed.). Studies in social power. Ann Arbor: University of Michigan Press, 1959. OIT - Organização Internacional do Trabalho. Las plataformas digitales y el futuro del trabajo: cómo fomentar el trabajo decente en el mundo digital. Ginebra, 2019. RAVEN, B. H. Political applications of the psychology of interpersonal influence and social power. Political Psychology, 1990. ______. A power/interaction model of interpersonal influence: French and Raven thirty years later. Journal of Social Behavior and Personality, 1992