Resumo

O modelo de análise do capital de giro proposto por Fleuriet, Kehdy e Blanc (1978), conhecido também como modelo dinâmico ou modelo de Fleuriet, visa minimizar os pontos negativos do modelo tradicional, primando pela simplificação de uma análise que permitisse a concepção de uma medida global de desempenho (RIBEIRO; CAMARGOS; CAMARGOS, 2019). O setor de aviação comercial é muito importante para a economia brasileira, tendo gerado em 2019, com base em dados da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR, 2020), R$ 103,4 bilhões de valor adicionado à Economia (1,4% do PIB nacional).

Dada a situação de crise que se encontra o setor de aviação civil ao longo dos anos e a crise financeira mundial relacionada à pandemia da Covid-19, este trabalho pretende responder à questão: Como se encontra a situação financeira de curto prazo das empresas de transporte aéreo e sua capacidade de solvência? Assim, estudo teve como objetivo analisar a gestão financeira de curto prazo de empresas de transporte aéreo de capital aberto a partir do modelo dinâmico de Capital de Giro e sua capacidade de solvência a partir do modelo de Prado et al. (2018).

O modelo de análise dinâmica foi desenvolvido na década de 1980 pelo francês Michael Fleuriet, como alternativa à análise tradicional, com foco na análise do capital de giro, utilizando três variáveis principais: capital de giro (CDG), necessidade de capital de giro (NCG) e saldo de tesouraria (T). O modelo de Prado et al. (2018) para análise de solvência das empresas diverge dos outros encontrados na literatura, pois utiliza o Modelo de Fleuriet e 13 indicadores de estudos anteriores, reduzindo as variáveis aos cinco melhores indicadores.

O universo deste estudo é composto pelas empresas de capital aberto do setor econômico bens industriais, subsetor de serviços de transporte e segmento de Transporte Aéreo da B3 S.A. – Brasil, Bolsa, Balcão, sendo a Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4), ambas utilizadas neste estudo. Os dados utilizados foram obtidos nos Balanços Patrimoniais e Demonstrações do Resultado do Exercício, consolidados trimestralmente das empresas, no período que vai do primeiro trimestre de 2017 ao primeiro trimestre de 2020, totalizando 13 Trimestres.

Para a Azul, percebe-se que a NCG e o CDG indicam que a Azul não apresenta plena capacidade para honrar seus compromissos.O Saldo de Tesouraria foi negativo no primeiro trimestre de 2017, tornando-se positivo por 11 períodos, até o primeiro trimestre de 2020, no qual ficou negativo. No primeiro de 2020, visualiza-se o chamado “Efeito Tesoura”. No caso da Gol, a NCG e o CDG foram negativos durante todo o período de análise e percebe-se uma queda acentuada das três variáveis no primeiro trimestre de 2020 (NCG, CDG e ST) em comparação à média dos três anos anteriores (2017 a 2019).

Conclui-se que tanto a análise dinâmica pelo modelo Fleuriet quanto a análise de solvência feita através do modelo de Prado et al. (2018) indicam que a Azul e a Gol encontram-se em situações financeiras ruins, podendo até mesmo descontinuarem suas operações. O modelo de Fleuriet mostrou que a Azul apresentou o efeito tesoura no primeiro trimestre de 2020 e o modelo de Prado et al. (2018) mostrou que a Gol sempre apresentou insolvência, ambas piorando no início da crise da Covid-19.

FLEURIET, M.; ZEIDAN, R. O Modelo Dinâmico de Gestão Financeira. Rio de Janeiro: Alta Books, 2015. FLEURIET, M.; KEHDY, R.; BLANC, G. A dinâmica financeira das empresas: um novo método de análise, orçamento e planejamento financeiro. 1ª ed. Belo Horizonte: Fundação Dom Cabral, 1978, 181p. PRADO, J. W.; CARVALHO, F. M.; BENEDICTO, G. C.; ALCÂNTARA, V. C.; SANTOS, A. C. Uma Abordagem para Análise do Risco de Crédito Utilizando o Modelo Fleuriet. Revista de Educação e Pesquisa em Contabilidade (REPeC), v. 12, n. 3, 2018.