Resumo

Título do Artigo

"O problema do Brasil foi depois que Ricky Martin se assumiu gay": vivências de gestores/enfermeiros gays sobre feminilidade e orientação sexual
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Palavras Chave

Masculinidade
Estigma
Gay

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Diversidade, Diferença e Inclusão nas Organizações

Autores

Nome
1 - WILLEY MAX DE PINHO COSTA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO (UFES) - PPGADM

Reumo

A lógica heteronormativa que impera na sociedade se reflete nas organizações (CARRIERI, 2013). A matriz dominante valoriza o homem heterossexual e masculinizado em detrimento da mulher e tudo o que possui características femininas (SOUZA E CARRIERI, 2010). O homem gay, nesse contexto, sofre por representar uma subversão à ordem estabelecida, em especial o gay afeminado, que vai contra toda uma estrutura social que prega a masculinidade e heterossexualidade dos homens, como forma de dominação masculina (SIMÕES; FACCHINI, 2008).
Essa pesquisa traz um diálogo entre estigma, dominação masculina e feminilidade, avaliando como se encontram gays afeminados nas organizações, Tendo em vista a matriz heteronormativa, caso algum homem gay e afeminado tenha assumido uma posição de poder, como se deu o fato? Assim, o estudo levanta o seguinte problema: de que maneira se dão as vivências de gestores gays em organizações de saúde? Esta pesquisa tem como objetivo identificar e analisar as relações de trabalho e as vivências de homens gays na área de enfermagem, profissão historicamente dada ao feminino (LOPES; LEAL, 2005).
A investigação se baseou principalmente em Bourdieu e seu livro ‘‘A Dominação Masculina’’ (2002), que traz reflexões sobre a supremacia do sexo masculino em detrimento do feminino e as normas sociais decorrentes desta constatação. Buscou-se ainda discursar a respeito do ideal de masculinidade associado ao sexo masculino, tomando como referência a obra ‘‘A Construção Social da Masculinidade’’ (OLIVEIRA, 2004), a fim de explicitar de que maneira a persona exigida do homem foi moldada para ser o oposto e estar em conflito direto com o feminino (e todo o universo de ideias atribuído a ele).
Como metodologia foi utilizado o estudo de caso de enfermeiros e gestores gays, cujas vivências foram relatadas através de entrevistas com roteiro semiestruturado, as quais foram submetidas à análise de conteúdo proposta por Bardin (1977).
Os gestores gays na área da saúde apresentaram várias vivências homofóbicas, fruto de regras sociais que exigiam destes uma masculinidade sempre presente e uma supressão de suas características consideradas femininas. As práticas de resistências se deram principalmente pelo uso do empoderamento do discurso homofóbico, desde que não representasse uma ameaça aos cargos que os entrevistados ocupavam. A violência simbólica, em especial a dominação masculina, opera de maneira tão eficiente que em alguns momentos os entrevistados não se davam conta de que estavam relatando uma situação de homofobia.
Pôde-se constatar que a violência simbólica, especificamente a dominação masculina e suas manifestações homofóbicas se encontram tão presentes quanto em outros ambientes, só que de maneira distinta. Quanto maior a hierarquia, mais sutil é a violência, reestruturando-se e manifestando-se de forma mais direta nos níveis mais baixos da hierarquia. O homem gay, dentro da enfermagem, sofre tanto quanto aquele indivíduo inserido em ambientes masculinizados. O espaço da enfermagem é destinado à mulher, e o homem gay subverte a visão de gênero na profissão.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. 7ª edição. Lisboa. 281p. 2008. BOURDIEU, P. A Dominação Masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. Cap. 1 – Uma Imagem Ampliada. BOURDIEU, P. O poder simbólico. Tradução Fernando Tomaz. 2 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. CARRIERI, A P; SOUZA, E. M.; AGUIAR, A. R. C. Trabalho e Violência e Sexualidade: Estudo de Lésbicas, Travestis e Transexuais. RAC.Revista Contemporânea de Administração (Online), v. 18, p. 78-95, 2015. OLIVEIRA, P. P. A construção social da masculinidade. Belo Horizonte. Editora UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ. 2004.