Resumo

O esgotamento dos recursos naturais, assim como as consequências econômicas e sociais atreladas aos padrões atuais de consumo, provocaram uma mudança no comportamento das organizações e dos consumidores. Umas das consequências dessa mudança foi o surgimento dos serviços de compartilhamento, que contribui para o desenvolvimento da sustentabilidade ambiental (BÖCKER; MEELEN, 2017). Nesse cenário, surge o consumo colaborativo, uma nova forma de negócios que alia as mudanças tecnológicas com a sustentabilidade, sendo a Uber uma empresa que se enquadra nessa nova perspectiva de consumo.

O Uber Juntos, serviço de compartilhamento de viagem oferecido pela Uber, tem o potencial de contribuir para a legitimação do discurso da Uber acerca do propósito sustentável da empresa. Com o intuito de analisar a percepção dos motoristas acerca do aspecto sustentável do Uber Juntos, surgiu a seguinte questão de pesquisa: Qual a percepção dos motoristas de Uber em relação aos fatores ambientais, econômicos e sociais envolvidos no serviço Uber Juntos? O objetivo do estudo é identificar a percepção dos motoristas sobre os fatores ambientais, econômicos e sociais percebidos no uso do Uber Juntos

O conceito de produto verde, ou seja, ambientalmente responsável, também envolve a prestação de serviços. Assim, a Uber, ao ofertar a função Uber Juntos, está promovendo um serviço verde. Na perspectiva do consumo colaborativo, o Uber Juntos, ao promover o compartilhamento de viagem entre passageiros com destinos próximos, está contribuindo para o desenvolvimento sustentável através da redução do congestionamento no trânsito e da emissão de gases. Assim como, através do potencial de gerar uma renda extra aos motoristas e propiciar uma maior interação social (MORRIS et al. 2020).

A presente pesquisa caracteriza-se como qualitativa e descritiva, visto que se buscou informações sobre determinado grupo, no caso desse estudo, 10 motoristas da Uber residentes da cidade de Fortaleza/CE. Para a coleta dos dados, as informações foram colhidas a partir de entrevistas semiestruturadas, com base em um roteiro baseado no tripé da sustentabilidade proposto por Elkignton (1997). As entrevistas ocorreram entre maio e junho de 2019 pelos pesquisadores, que se colocaram como clientes na cidade de Fortaleza/CE. Por fim, utilizou-se ainda a análise de conteúdo segundo a Bardin (2011).

Na categoria ambiental, revelou-se as subcategorias: Redução de Impactos Ambientais, correspondente aos sujeitos que apresentam uma visão otimista sobre os impactos ambientais do Uber Juntos, e a Utilização de Combustível, correspondente aos sujeitos que possuem uma visão contrária. Na categoria econômica, apresentou-se as subcategorias: Geração de Emprego e Renda, Atingimento de Metas e Redução de Custos, em que parte dos sujeitos desconhecem os ganhos financeiros. Na categoria social, as subcategorias: Segurança, Interação e Inclusão Social, trazem como fator crítico a insegurança da cidade.

Apesar da Uber afirmar que o serviço Uber Juntos reforça o compromisso da empresa com a questão sustentável, esse propósito não tem sido percebido por todos os motoristas. Sobre os benefícios financeiros, esses não têm sido bem divulgados, e a percepção de redução de custos por muitos é visto apenas como um benefício para o passageiro. Além disso, mesmo a Uber apresentando uma política de inclusão social, que pauta a acessibilidade às camadas menos favorecidas e afirmando que o serviço é uma ferramenta segura, a insegurança relatada pelos entrevistados foi um fator que limitou a sua utilização

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. BÖCKER, L.; MEELEN, T. Sharing for people, planet or profit? Analysing motivations for intended sharing economy participation. Environmental Innovation and Societal Transitions, v. 23, p. 28-39, 2017. ELKINGTON, J. The triple bottom line. Environmental management: readings and cases, v. 2, 1997. MORRIS, E. A. et al. Are drivers cool with pool? Driver attitudes towards the shared TNC services UberPool and Lyft Shared. Transport Policy, v. 94, p. 123-138, 2020.