Resumo

O Brasil, como um país cuja população sofre de diversas mazelas, precisa de investimentos tanto públicos quanto privados em diversas áreas. No entanto, pelo tamanho territorial e por outras questões, é difícil que todas elas sejam contempladas assertivamente. Consequentemente, o governo federal e as empresas devem priorizar as escolhas de alocação de recursos apenas em determinados setores.

A cada eleição presidencial surgem discussões sobre como os investimentos públicos e privados devem ser incentivados. É possível que um dos fatores decisivos para o direcionamento destas verbas seja a ideologia do partido vencedor. Entretanto, faltam estudos para provar esta hipótese. Assim, o objetivo desta pesquisa é, portanto, analisar a relação entre a ideologia política e o perfil de investimento público e privado por meio de sua evolução nos últimos 30 anos no Brasil, período em que retomamos eleições diretas no país.

A visão monetarista sugere que os gastos públicos implicam em redução de investimentos privados, o chamado “crowding-out”. Em contrapartida, os keynesianos defendem que esses gastos estimulam investimentos, uma vez que existe espaço por conta de uma subutilização dos recursos, o chamado “crowding-in” (AHMED e MILLER, 2007). A esquerda é caracterizada como defensora do bem estar social promovido pela intervenção do governo e a direita defende o liberalismo econômico (BOBBIO, 2001).

A pesquisa adotou testes estatísticos paramétricos de quebra estrutural da série temporal do investimento no país por meio de modelo de estimação, utilizando regressão linear múltipla pelo método dos mínimos quadrados ordinários. Complementarmente, o artigo propõe uma abordagem qualitativa com pesquisa documental, por meio de análise dos programas de governos vencedores nos últimos 30 anos em relação aos investimentos públicos e privados realizados.

As ideologias são fatores importantes para tentarmos entender o nível e o direcionamento dos investimentos públicos e privados, principalmente em relação aos investimentos públicos, como identificado na análise estatística de quebra estrutural da série temporal de formação bruta de capital fixo (FBCF) do governo, no entanto os ideais de campanha não vem sendo alcançados, uma vez que existem fatores moderadores determinantes relevantes como crises políticas e econômicas, nacionais ou internacionais, e neste ano especialmente, a pandemia, que podem dificultar este entendimento.

Nos últimos 30 anos, governos mais e menos liberais governaram o país, de maneira que devemos tentar entender como a ideologia deles foi determinante no perfil de investimentos públicos e privados no período. Assim, a pesquisa permitiu observar que governos mais à direita privilegiaram pautas como a privatização, enquanto que governos à esquerda tomaram medidas voltadas ao desenvolvimento econômico baseado no forte ativismo estatal. Além disso, fatores conjunturais ajudaram a determinar o nível de investimentos públicos e privados durante o período.

Ahmed, H. & Miller, S. (2000). Crowding‐out and crowding‐in effects of the components of government expenditure. Contemporary Economic Policy, 18:124-133. Bobbio, N. (2001). Direita e Esquerda razões e significados de uma distinção política. Unesp. Dostaler, G. (1998). Friedman and Keynes: divergences and convergences. Journal of the History of Economic Thought, 5(2):317-347. Gujarati, D. (1970). Use of dummy variables in testing for equality between sets of coefficients in two linear regressions: a note. The American Statistician, 24(1):50-52.